São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 1997
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A mão que balança o berço

VAGUINALDO MARINHEIRO

São Paulo - Falta de leitos, falta de profissionais especializados, falta de dinheiro, falta de higiene, falta de esterilização de mamadeiras e sobra de formigas e de bolor nas paredes de berçários.
O cenário poderia ser de um pequeno vilarejo de um país longe da civilização, mas é dos hospitais públicos de São Paulo, a cidade que se orgulha de ter a melhor medicina do Brasil.
Resultado desse excesso de faltas: 12 bebês mortos desde setembro e mais de 20 ainda internados com suspeita de contaminação por bactérias.
E esses são apenas os números oficiais. A Folha conseguiu provar que, no caso da prefeitura, houve omissão de informação.
Pais cujos filhos morreram devido à infecção bacteriana que matou os 12 no Hospital da Vila Nova Cachoeirinha não foram avisados da causa da morte das crianças. O que parece uma tática para evitar indenizações.
Como resposta ao problema, Estado e prefeitura sacam a justificativa padrão nesses casos: 1- não há dinheiro; 2- o governo federal não faz repasse suficiente de verbas; 3- existem muitos pacientes e pouca estrutura; 4- não há como contratar profissionais.
Além disso, o Estado acusa a prefeitura de não atender e de transferir pacientes dos hospitais municipais para os estaduais.
Num discurso que mais parece eco, a prefeitura faz a mesma acusação em relação ao Estado.
Para além das chorumelas, os secretários deveriam saber que o bê-á-bá administrativo, principalmente quando falta dinheiro, é definir prioridades, atacar aquilo que é mais urgente.
Se eles acham que é aceitável manter esse sistema de superlotação em UTIs infantis (há 140 leitos e carência de outros 180), nossa política de saúde é que precisa ir para uma unidade de tratamento intensivo. E que eles rezem para ser uma bem esterilizada.

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