São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 1997
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Rio-Nova York

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - Em um capítulo curtinho de seu delicioso livro "Nova York É Aqui" (editora Objetiva, 216 págs.), o jornalista, escritor, compositor e boa praça Nelson Motta aborda a questão da criminalidade na capital do planeta.
Relata como, há anos, o prefeito Rudolph Giuliani vai à TV para, segundo Motta com ares de Paulo Maluf e jeito de Cesar Maia, anunciar uma nova queda nos índices de crimes na cidade.
Embora use isso para faturar o máximo politicamente, o prefeito não mente, porque, como se sabe e o próprio texto do livro demonstra, os assaltos, furtos, assassinatos, estupros etc. têm de fato decaído sensivelmente. As ocorrências são hoje 36% menores do que eram em 1993, segundo os dados oficiais.
De qualquer maneira, Motta alerta: "Nova York ainda é -e sempre será- uma cidade violenta. Quem vem da Baixada Fluminense pode achar que está na Suíça; já os escandinavos se sentem na Baixada".
Mas o mais importante de suas observações -além de alertar os brasileiros mais empolgados para terem, em Manhattan, "olho vivo e faro fino"- é o seguinte: a cidade melhorou muito nos últimos anos, num contexto de crescimento econômico -turismo, negócios etc.- que ocorreu paralelamente à aplicação de uma estratégia correta do poder público -"tolerância zero" e controle rígido da própria polícia.
"Tolerância zero" é combater todo tipo de delito, independentemente de seu tamanho e importância. E o gerenciamento rigoroso dos agentes da lei implica ter uma polícia da polícia (a corregedoria, no caso brasileiro) efetivamente empenhada em identificar e punir exemplarmente os policiais envolvidos em crimes.
Esse é o caminho que deu certo em Nova York, embora não seja possível prever que possa alcançar o mesmo êxito por aqui.
É muito mais decente, no entanto, do que simplesmente dar dinheiro e condecorações para os policiais que matam bandido, como se "tolerância zero" significasse tentar "zerar" a bandidagem a bala.

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