São Paulo, domingo, 30 de novembro de 1997
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Cai o padrão de vida da classe média

CÉLIA GOLVÊA FRANCO
DA ENVIADA ESPECIAL AO MÉXICO

Até 1995, Alvaro Alva Alvarez, 55, era dono de uma lanchonete no centro histórico da Cidade do México.
Com a recessão provocada pela crise financeira do país, a lanchonete quebrou, e Alva passou a trabalhar como motorista.
Libia Hernandez, 25, acabou a faculdade de estudos latino-americanos há um ano.
Sem encontrar emprego como professora ou pesquisadora, tornou-se vendedora em uma loja de jóias num dos bairros mais chiques da cidade, o Polanco.
Patricia Garcia de Uria, 41, recepcionista em um escritório de advocacia e casada com o subgerente de controladoria de um banco, resume a situação de milhares de mexicanos em uma frase: "Há três anos, nossa família era de classe média alta; hoje, somos classe média baixa."
Três situações muito diferentes que retratam as consequências para os mexicanos do terremoto financeiro experimentado pelo seu país há três anos.
Ainda hoje, embora o México esteja se recuperando rapidamente, os salários reais continuam em patamares 25% abaixo do nível de 1994.
Salário mínimo
O salário mínimo no país -recebido por cerca de 12% ou 13% da população, segundo o Ministério da Fazenda- é equivalente a US$ 3,12 por dia de trabalho ou US$ 78,12 por mês, descontando-se os domingos.
A redução dos salários foi essencial para o plano econômico adotado pelo governo mexicano para enfrentar a crise de 1994/5.
A economia mexicana está voltada para as exportações, e os salários tiveram de ser bastante comprimidos para que o país pudesse competir com produtos baratos no mercado internacional.
O governo praticamente deixou de estabelecer regras quanto aos salários.
Além dos salários baixos, os mexicanos sofrem com o desemprego -que chegou a 6,2% em 1995.
A taxa de desemprego caiu hoje para 3,4%, mas o que preocupa mais o país é a dificuldade de encontrar emprego que os jovens vêm enfrentando quando tentam ingressar no mercado de trabalho.
Desemprego
A dificuldade vivida pelos mais jovens de conseguir emprego explica a situação vivida por Libia Hernandez.
Libia adiou seus planos de morar sozinha e economiza cada peso que pode para ajudar a família a pagar as dívidas -em atraso- feitas antes da crise de 1994.
Patricia Garcia e sua família simplesmente deixaram de usar cartão de crédito "para ter um pouco mais de tranquilidade".
A família estava bastante endividada em 1995 quando os juros foram drasticamente elevados.
O mesmo ocorreu com Alvaro Alva, também endividado em 1995, que até hoje está pagando dívidas assumidas no período em que ainda era dono de lanchonete.
(CGF)

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