São Paulo, domingo, 30 de novembro de 1997
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A lógica da liberdade

MAURÍCIO TUFFANI
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

O filósofo e matemático brasileiro Newton Carneiro Affonso da Costa, 68, um dos nomes mais importantes da lógica contemporânea, acaba de lançar o livro "O Conhecimento Científico".
Rompendo com uma tradição aristotélica de mais de 2.000 anos, esse homem de aparência e modos convencionais, casado, três filhos, nascido em Curitiba, no Paraná, criou em 1963 uma lógica que admite contradições: a lógica paraconsistente.
Quase desconhecido no Brasil, e famoso nos círculos acadêmicos de vários países, ele já não consegue acompanhar o desenvolvimento de sua lógica, devido à repercussão que ela teve.
Em julho e agosto deste ano foi realizado na Universidade de Ghent, na Bélgica, o Primeiro Congresso Internacional de Paraconsistência, com a participação de importantes pesquisadores de todo o mundo.
Autor de cerca de 200 trabalhos sobre lógica, teoria da ciência e fundamentos da física, ele é o único brasileiro membro do seleto Instituto Internacional de Filosofia de Paris.
Alheio aos temas da filosofia especulativa, ele foi muitas vezes indevidamente tachado como neopositivista por sua formação com ênfase na ciência, em especial na matemática, na física e na lógica.
Ele já se mostrou incapaz de identificar, por exemplo, músicas como algumas das mais famosas de Roberto Carlos e atrizes como Sônia Braga. Música para ele, somente a dos clássicos, como Beethoven, Chopin e outros.
Em 1978, com a Copa do Mundo acontecendo na Argentina, ele foi ao campus da USP para dar uma aula no dia e horário de um dos jogos da Seleção Brasileira, e ficou surpreso ao ver os corredores da faculdade vazios.
Apesar de praticamente não ler jornais e revistas, ele consegue estar sempre razoavelmente atualizado com relação aos acontecimentos políticos e econômicos.
Após ler o jornal, sua mulher comenta resumidamente os assuntos principais -na visão dele, é claro- e, conforme o caso, separa as matérias pelas quais ele pode se interessar.
Em certo sentido, ele é uma contradição viva. Formado em engenharia, segundo ele para entender a aplicação da ciência, é capaz de se atrapalhar para trocar um pneu.
A idéia de trabalhar com a contradição atraiu para a lógica paraconsistente estudiosos de várias áreas, inclusive psicanalistas, que reconhecem no trabalho a formalização da idéia de contradição que, segundo Freud, existiria no próprio plano do inconsciente.
Na área do direito, alguns estudiosos vêem a paraconsistência como um sistema capaz de viabilizar processos dedutivos a partir de premissas contraditórias correspondentes a interesses em conflito. Na informática, especialistas já desenvolvem sistemas para processar dados contraditórios.
As incursões de Newton da Costa nos fundamentos da física têm culminado em artigos veiculados em algumas das mais conceituadas publicações científicas. No campo da teoria da ciência, ele retomou o caminho heterodoxo com o conceito de "quase-verdade".
Em entrevista à Folha, que contou a participação de Caetano Ernesto Plastino, professor de teoria do conhecimento e filosofia da ciência da USP, Newton da Costa falou sobre sua trajetória intelectual e, em particular, sobre seu trabalho em lógica e teoria da ciência.

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