São Paulo, domingo, 30 de novembro de 1997 |
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Entenda o aquecimento global O efeito estufa é um fenômeno natural. Sem ele, a superfície da Terra seria, em média, 33 °C mais fria. Graças ao efeito estufa, a vida pôde surgir no planeta O "efeito estufa" normal 1. Radiação solar entra na atmosfera 2. Parte da radiação solar é refletida pela atmosfera e volta para o espaço 3. Parte da radiação solar também é refletida pela Terra 4. A maior parte da radiação solar é absorvida pela superfície terrestre e aquece o planeta 5. Superfície da Terra emite raios infravermelhos (calor) 6. Parte dos raios infravermelhos deixa a atmosfera 7. Outra parte é absorvida e impedida de sair pelo vapor de água e por outros gases, em especial o dióxido de carbono (CO2), presentes na atmosfera A causa do aumento da temperatura 8. A queima excessiva de combustíveis fósseis - petróleo e derivados e carvão - pelas atividades humanas e a destruição de florestas pelo fogo aumentam a concentração dos gases-estufa na atmosfera Esse aumento intensifica a retenção do calor pelo efeito estufa, elevando a temperatura global Fonte: Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, gráfica da Universidade de Cambridge Cronologia Década de 70 . Durante a década de 70, começaram a surgir as primeiras revelações que apontavam para o aumento da concentração de CO2 na atmosfera . Cientistas e ambientalistas começaram a exigir medidas contra o aquecimento global. Nos anos seguintes, o assunto ganhou importância e diversos eventos conduziram à conferência sobre mudança climática, que começa amanhã em Kyoto 1988 . É criado o Painel Intergovernamental sobre Mudança no Clima (IPCC), reunindo 2.000 cientistas de todo o mundo, por determinação da Organização das Nações Unidas e da Organização Meteorológica Mundial . O objetivo é investigar a possibilidade de a Terra estar caminhando para um aquecimento global e quais as consequências que o fenômeno traria 1990 . É publicado o primeiro relatório do IPCC, que previu que os níveis de CO2 dobrariam nos próximos cem anos. Como resultado, a temperatura global aumentaria de 1,5 °C a 4,5 °C . O trabalho também alertou para a possibilidade de o nível do mar subir e previu a ocorrência de grandes enchentes e secas, que poderiam ameaçar o suprimento de comida e água 1992 . Chefes de Estado de diversos países do mundo reúnem-se no Rio de Janeiro para a primeira conferência de cúpula sobre a Terra . A Convenção do Clima, assinada durante a reunião, rejeitou cortes obrigatórios nas emissões de CO2, mas sugeriu às nações que reduzissem voluntariamente seus níveis de poluição aos de 1990. O ano 2000 foi o prazo estipulado para o início do controle 1993 . O presidente norte-americano, Bill Clinton, declarou-se favorável à redução das emissões dos Estados Unidos de acordo com o proposto pela conferência do Rio . Logo ficou claro que os EUA, assim como a maioria dos países desenvolvidos, não conseguiriam reduzir suas emissões aos níveis de 1990 1995 . Sai o segundo relatório do IPCC, que conclui que o aquecimento global já havia começado . O painel, de cerca de 2.000 cientistas, previu consequências graves sobre o ambiente caso não fossem tomadas medidas sérias para reduzir as emissões de CO2 1996 . Representantes de mais de 120 países reúnem-se em Genebra, na Suíça, e decidem endossar o relatório do IPCC . São marcadas negociações, em ritmo acelerado, para a assinatura de um tratado que imponha cortes obrigatórios, sob a ameaça de sanções, nas emissões de CO2 . Outras quatro rodadas de conversações acontecem em Genebra e em Bonn (Alemanha), no ano seguinte 1997 . Junho - Uma segunda cúpula da Terra, realizada em Nova York, não consegue estabelecer um acordo entre os países . O presidente Clinton não aceita a proposta da União Européia de, em 2010, reduzir as emissões em 15%, tendo como referência os níveis de 1990 . 6 de outubro - Japão apresenta sua proposta de reduzir as emissões a níveis 5% inferiores aos de 1990 . 21 de outubro - Um grupo de 77 países em desenvolvimento, incluindo a China e a Índia, propõe uma redução ainda mais rigorosa por parte dos países industrializados: 35% nas emissões de gases no ano 2020, tendo como referência os níveis de 1990 . 22 de outubro - Clinton apresenta a proposta norte-americana de, em 2012, igualar os níveis de emissão aos de 1990. O presidente dos EUA também pede a colaboração dos países em desenvolvimento para a redução das emissões Posições de alguns países em Kyoto - Estados Unidos . Querem que, entre 2008 e 2012, os países industrializados limitem suas emissões de dióxido de carbono aos níveis de 1990. Exigem que nações em desenvolvimento também limitem suas emissões . Sugeriu um sistema de crédito ligado ao comércio internacional que favoreça empresas que reduzirem suas emissões - Japão . Quer que, em 2012, as emissões das nações industrializadas sejam reduzidas em 5% em relação aos níveis de 1990 . Após a crise do petróleo da década de 70, o Japão realizou esforços para se tornar menos dependente do produto, o que levou a uma redução de suas emissões nos anos 90. Agora, exige uma contribuição maior de outros países - União Européia . Quer que, em 2010, os países industrializados reduzam suas emissões em 15% em relação aos níveis de 1990 . A Alemanha pode ser pressionada a contribuir mais porque o nível de emissão do país em 90 era muito alto. Nesse ano, o país iniciava o processo de reunificação e absorveu fábricas muito poluentes da Alemanha Oriental - Rússia . Não anunciou as propostas que deverá apresentar durante a conferência sobre mudança climática de Kyoto . As fábricas do país sempre tiveram elevados níveis de emissão, mas, como a produção industrial entrou em colapso com o fim da União Soviética, ocorrido em 91, as emissões hoje estão 30% inferiores em relação a 1990 - Austrália . Embora tenha uma política ecológica, cerca de 80% das exportações do país é composta de produtos que contribuem para a emissão de gases. Por isso, quer elevar suas emissões em 18% . Ilhas e atóis vizinhos ao país podem desaparecer se o nível do mar aumentar e estão exigindo uma posição favorável à redução por parte da Austrália - China, Índia e outros países em desenvolvimento . Rejeitam qualquer limite às suas emissões de dióxido de carbono, sob o argumento de que a medida dificultaria o desenvolvimento econômico e a diminuição da pobreza . Exigem que os países industrializados dêem o primeiro passo, já que são os principais produtores de CO2 - Brasil . Sugere que, em 2010, as emissões sejam reduzidas em 15% em relação a 1990. . Embora o país esteja em 19ª lugar na lista mundial de emissores de dióxido de carbono, cientistas dizem que as queimadas na floresta amazônica fazem o país pular para a 5ª posição - OPEP . A Organização dos Países Exportadores de Petróleo, cujos membros respondem por cerca de 40% da produção mundial de óleo bruto, estima que a redução da demanda pelo produto (no caso da imposição de limites às emissões de gases) provocaria perdas de até US$ 20 bilhões. . Membros ameaçam lutar por compensações para atenuar as perdas Perguntas e respostas 1. A Terra está ficando mais quente? Sim, mas não muito. As temperaturas médias na superfície terrestre subiram entre 0,3 °C e 0,6 °C desde 1860 (data de início do registro). Especialistas atribuem parte desse aumento ao 'efeito estufa'. Os dez anos mais quentes do século aconteceram desde 1980 e há indícios de que os anos 90 estão sendo ainda mais quentes 2. A elevação será de quantos graus? Segundo o Painel Intergovernamental sobre a Mudança do Clima (IPCC), órgão ligado à ONU que reúne cerca de 2.000 cientistas, a temperatura média global da superfície terrestre subirá entre 1 °C e 3,5 °C até o ano 2100, se a emissão de gases não for controlada 3. O que acontecerá com o clima da Terra? Ficará mais quente e mais úmido, mas não em todos os lugares. Cientistas dizem que haverá acréscimo nas chuvas e enchentes mais frequentes em algumas áreas. Outras regiões poderão sofrer secas crônicas. Haverá um acréscimo no número de dias de verão extremamente quentes, mas a temperatura subirá mais durante o inverno em altas latitudes do hemisfério Norte 4. O aquecimento global vai afetar o nível do mar? O calor provoca a expansão do volume da água. Se as geleiras continuarem a derreter, como tem acontecido, o nível do mar pode subir ainda mais. A projeção é de que a elevação média no ano 2100 será de cerca de 50 centímetros, podendo variar de 15 cm a 90 cm. Se o nível do mar subir 1 metro, 17,5% das terras de Bangladesh, por exemplo, ficarão submersas 5. O aquecimento afetará a saúde humana? Especialistas em saúde pública estão preocupados com a possibilidade de a elevação da temperatura facilitar a ocorrência de infecções e de doenças provocadas por insetos. De acordo com um estudo, os casos de malária podem aumentar em 80 milhões 6. Haverá consequências negativas para a agricultura? O aquecimento poderá resultar em queda na produção de algumas áreas, mas, em compensação, poderá permitir a agricultura em regiões que hoje são muito frias 7. A concentração de gases na atmosfera cresceu muito? Em 1750, época da Revolução Industrial, a concentração de CO2 na atmosfera era de aproximadamente 280 partes por 1 milhão (ppm). Agora, está próxima a 360 ppm, um acréscimo de cerca de 30%. O IPCC estima que, se as emissões continuarem nos níveis de 1994, a concentração de CO2 em 2100 será de 550 ppm. A humanidade joga cerca de 7 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera todos os anos, o que representa acréscimo anual de cerca de 1% na concentração de gases 8. O que contribui para a elevação da temperatura e como evitá-la? A queima de combustíveis fósseis, principalmente petróleo e seus derivados e carvão, e de florestas. É preciso restringir os níveis atuais das emissões de gases-estufa. Para isso, é necessário desenvolver tecnologias que economizem energia e reduzam a emissão de poluentes. Também é preciso racionalizar as atividades industriais e de transportes e impedir a queima de florestas e áreas agrícolas Texto Anterior: Conferência fixa meta contra aquecimento Próximo Texto: 'L'Unitá' demite e quer capital privado Índice |
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