São Paulo, domingo, 30 de novembro de 1997
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Falcões protegem o aeroporto de NY

Predador afasta aves que atrapalham vôos

HAGAR SCHAR
DA "REUTERS"

A antiga tradição da falcoaria está sendo aplicada para fins modernos no Aeroporto Internacional John F. Kennedy, em Nova York. O JFK resolveu usar falcões para afastar os pássaros que ameaçam a segurança dos aviões que o utilizam.
É uma visão espantosa em meio aos jatos Concorde e às torres de radar: o falcoeiro Tom Cullen e seus assistentes, usando um grupo de nove falcões para assustar pombas, gaivotas e outras aves que podem causar sérios estragos aos aviões que aterrissam no aeroporto e dele decolam.
Segundo as autoridades do JFK, ocorrem em média 150 incidentes de pássaros colidindo com aviões por ano, embora nunca tenham resultado em danos físicos aos passageiros.
Em 1975, um DC-10 que estava decolando caiu depois que vários filhotes de gaivotas foram sugados para dentro de seus motores. Em 1995, um Concorde da Air France sofreu danos no valor de US$ 5 milhões depois de chocar-se com um bando de gansos.
Tom Cullen é um dos cerca de 3.000 falcoeiros autorizados a trabalhar nos Estados Unidos. Ele chegou ao aeroporto em meados deste ano para começar a resolver o problema. O programa teve início no ano passado, com outro grupo de falcoeiros.
Cullen e seus assistentes percorrem as pistas do aeroporto numa frota de veículos com tração nas quatro rodas em busca de pássaros.
Os falcões ficam sobre poleiros na traseira dos veículos, usando capuzes de couro vendando seus olhos, para evitar que se agitem. Quando não estão trabalhando, os falcões vivem numa barraca de malha no aeroporto.
Numa tarde recente, Cullen estacionou o seu carro na pista 422, no lado sul do aeroporto. O falcão peregrino Basil e o falcão escuro Raisin alçaram vôo, mergulhando de tempos em tempos em velocidades de até 193 km/h para abocanhar um pedaço de pomba que Cullen agitava com uma corda.
"Eles voam como se estivessem caçando, embora, na realidade, não estejam", disse o falcoeiro, observando Basil devorar a sua recompensa: uma fatia de codorna. "Ao vê-los, as outras aves com certeza vão se manter afastadas."
Em um ano de uso dos falcões, o número de colisões de aves com aviões caiu mais de 60% no JFK. "Estamos usando a natureza para controlar as aves, sem chegar a matá-las", disse Graser.
Segundo Cullen, os falcões são usados há séculos para influenciar o comportamento de outras aves.
Com seus sentidos aguçados e suas reações velozes, esses predadores já foram usados para interceptar pombos-correios que carregavam mensagens em tempos de guerra e para afastar outras aves de plantações agrícolas.
Cullen conta que a falcoaria vem sendo usada em aeroportos para reduzir a ameaça de colisões com pássaros desde a Segunda Guerra Mundial (1939-45).
Ele próprio participou do primeiro programa de falcoaria comercial, promovido num aeroporto britânico há 25 anos.
Recentemente, o método vem sendo usado em aeroportos do Canadá, Europa e Taiwan. A Força Aérea norte-americana também o está testando.
Apesar da aparente eficácia desses programas, altos funcionários da aviação continuam céticos. Cullen explica: "É uma coisa um pouco exótica, que contraria o pensamento humano típico de que é mais fácil resolver um problema com uma arma do que com a cabeça."

Tradução de Clara Allain.

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