São Paulo, terça-feira, 2 de dezembro de 1997
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Angola vê porta fechar

SÉRGIO TEIXEIRA JR.

DA REPORTAGEM LOCAL

"Até o intervalo, as portas do nosso grande sonho estavam abertas. Mas não pudemos entrar." Até os últimos 45 minutos do último jogo da última rodada das eliminatórias africanas, a seleção de Angola, do técnico Manoel Gomes Necas, o autor da frase acima, tinha chances de ir à Copa.
Para os angolanos, foi um golpe duplo: a equipe era considerada a mais forte já formada pelo país, jogou oito partidas sem derrota, mas a vaga acabou nas mãos dos rivais da República dos Camarões.
No dia 17 de agosto passado, um domingo, Angola foi a Lomé, a capital do Togo, enfrentar a equipe da casa, última colocada no grupo. Estava dois pontos atrás de Camarões, que também jogava fora de casa, contra o Zimbábue.
Ou seja: uma vitória aliada a um empate ou derrota dos camaroneses poderia garantir a primeira participação do país do sul da África, ex-colônia de Portugal, em uma Copa do Mundo.
Os angolanos saíram na frente. Quando o malinês Magassa apitou o final do primeiro tempo, estavam vencendo por 1 a 0. Em Harare, Camarões empatava em 0 a 0.
Corte para Luanda, Angola
Apesar de rechear seu discurso de espírito esportivo ("Derrota é parte do esporte", "ganhamos experiência"), o treinador Necas deixa transparecer frustração.
Para ele, a seleção que disputou a eliminatória não é a mais forte que Angola pode ter: "Muitos dos que eu convidei não quiseram jogar por Angola. Eles esperam naturalização em Portugal, e, se tiverem atuado por alguma outra seleção, fica muito mais difícil", disse ele à Folha, por telefone.
Destaca que sua equipe subiu 32 posições no ranking da Fifa (de 86º para 54º) e que a tradição de seguidas derrotas para Camarões estava sendo mudada, com três empates consecutivos -dois deles na campanha das eliminatórias.
Mas fala da situação do futebol de seu país, em transição entre o amadorismo e o profissionalismo e que ainda não consegue segurar os melhores jogadores, atraídos pelos escudos portugueses.
Volta a Lomé, Togo.
Magassa inicia o segundo tempo.
Logo no início, a torcida togolesa começou a vibrar. "Sabíamos que era um gol de Camarões." Os dois países têm em comum a colonização francesa e obtiveram a independência no mesmo ano, 1960.
"Estávamos vivos e morremos; fomos do céu ao inferno. É difícil descrever o que sentimos naquele momento", afirma Necas.
Depois, desestruturada, Angola acabou cedendo o empate. Camarões venceu por 2 a 1 e enterrou o sonho angolano.

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