São Paulo, terça-feira, 2 de dezembro de 1997
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Coquetel é melhor terapia, mas não é cura

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

O coquetel de drogas anti-Aids é a melhor terapia desenvolvida até hoje no mundo. Mas, após mais de um ano de uso dos remédios, está provado que eles não conseguem eliminar totalmente o vírus HIV do organismo.
No ano passado, uma combinação de drogas recém-saída do laboratório começou a ser usada em países do mundo inteiro depois que, em um congresso no Canadá, foram divulgados os resultados do uso desse coquetel. Era uma mistura nova, que combinava três remédios de duas classes diferentes. Dois que agem na primeira fase da multiplicação do vírus e um terceiro, que atua na última fase.
Com essa combinação, pela primeira vez, desde o início da epidemia nos anos 80, uma terapia conseguiu reduzir a níveis indetectáveis a quantidade de HIV no sangue. Na semana passada, esteve no Brasil a maior prova da eficiência das drogas. Um paciente norte-americano, que diz ter o vírus desde 79 (a data não pode ser provada porque os testes surgiram no início dos 80). Apesar de tomar 11 remédios por dia, ele está bem e diz ter uma vida totalmente normal.
No Brasil, os portadores do vírus dão depoimentos semelhantes. Após o uso do coquetel, muitos voltaram a trabalhar. O Ministério da Saúde compra e distribui os remédios desde o início deste ano. O efeito disso foi a queda de cerca de 30% na taxa de mortalidade.
Mas há um outro lado da moeda. Os remédios não são bem aceitos por todos os pacientes. Além disso, não se sabe o que vai acontecer em alguns anos. A certeza que se tem até hoje é que essas drogas não conseguem eliminar o HIV do organismo. Pesquisas mostram que "resíduos" do HIV continuam existindo em vários tecidos do corpo. Quem mostrou isso foi o maior otimista e considerado o "pai" do coquetel, David Ho.
No último congresso -realizado em outubro na Alemanha-, ele provou que os remédios não curam. A equipe de Ho, do Aaron Diamond Institute Research Center (EUA), fez testes em pacientes que tomavam o coquetel e apresentavam carga viral zero. A pesquisa mostrou que, em todos, partículas do HIV continuam existindo e podem voltar a ser ativadas. "Nunca disse que as drogas curavam", disse Ho.

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