São Paulo, terça-feira, 2 de dezembro de 1997
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Motoristas sem tíquete ameaçam parar SP

FABIO SCHIVARTCHE e
RODRIGO VERGARA

FABIO SCHIVARTCHE; RODRIGO VERGARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais de 50% dos ônibus da capital retornaram ontem às garagens em protesto contra o corte de benefícios

O sindicato dos motoristas e cobradores de ônibus de São Paulo ameaça paralisar cerca de 80% da categoria -cerca de 8.000 veículos- a partir da manhã de hoje por causa da não-concessão dos tíquetes-refeição aos trabalhadores.
O benefício (cada tíquete é de R$ 6,20) deveria ter sido concedido até ontem, mas menos de 10 das 53 empresas da capital entregaram os tíquetes no prazo.
Caso a paralisação se concretize, cerca de 4 milhões de pessoas serão prejudicadas. Ontem, parte da categoria parou as atividades para forçar a concessão do benefício.
Os empresários decidiram não entregar os tíquetes (eles estão amparados por uma liminar do Tribunal Superior do Trabalho) até que a Prefeitura de São Paulo pague sua dívida com o setor.
Em reunião com os empresários, na manhã de ontem, o secretário municipal dos Transportes, Carlos de Souza Toledo, afirmou não ter condições de pagar as empresas.
No entanto, no final da tarde, o prefeito Celso Pitta afirmou que vai liberar R$ 6,4 milhões (o suficiente para pagar os tíquetes) para resolver o problema.
"Autorizei a antecipação da verba para pagar o tíquete, mas a responsabilidade é dos empresários", afirmou Pitta.
O presidente do sindicato dos trabalhadores, Gregório Poço, disse na noite de ontem que não vai acreditar em promessas de Pitta. "Vamos fazer a ronda pelas garagens durante a madrugada. Se os motoristas receberem o tíquete, tudo bem. Caso contrário, vamos parar a categoria logo de manhã nas garagens", disse Poço.
A categoria marcou uma assembléia para a tarde de hoje, na sede do sindicato, para decidir se fará uma paralisação permanente.
Por precaução, o Transurb (sindicato dos empresários) vai requerer hoje de manhã ao Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (TRT) que reconheça a abusividade do movimento.
Dívida
Segundo os empresários, a administração Pitta deve às empresas mais de R$ 58 milhões, além de uma quantia de R$ 352 milhões (referente aos anos de 93 e 94).
A prefeitura contesta o valor da dívida. Segundo a Secretaria Municipal dos Transportes, é de apenas R$ 7,5 milhões, referentes a dois dias de operação do sistema.
Toledo disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que a prefeitura já repassou R$ 1,4 bilhão neste ano às empresas.
O Transurb alega que esse valor corresponde ao pagamento normal do setor e, mesmo assim, está incorreto -há uma outra dívida de R$ 240 milhões.
"A não-concessão dos tíquetes é mais um sintoma da crise da prefeitura. E quem sofre é a população", afirmou Poço.
Sem ônibus
A região mais atingida ontem foi a zona sul, onde quase toda a frota de três empresas foi parada desde as 12h. Segundo o sindicato dos motoristas e cobradores, mais de 50% dos ônibus ficaram sem rodar no final da tarde, afetando cerca de 2,5 milhões de paulistanos.
As opções para os passageiros foram utilizar os ônibus clandestinos -que partiam lotados dos pontos-, mudar de itinerário, pegar uma lotação ou ir a pé.
Além da falta de transporte, a greve prejudicou o trânsito nas ruas próximas aos terminais de ônibus, onde multidões tomaram parte das ruas à espera da condução. O Transurb e a prefeitura disseram não saber informar o número de passageiros prejudicados.

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