São Paulo, terça-feira, 2 de dezembro de 1997
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Conferência começa sem acordo no Japão

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A KYOTO

O primeiro dia da conferência da ONU sobre o clima, em Kyoto, Japão, foi marcado pela completa falta de consenso.
Americanos e europeus ocidentais criticavam-se mutuamente sobre o que deve ser feito para evitar uma catástrofe climática. Os EUA, mais radicais, disseram que não vão assinar nenhum documento que não esteja de acordo com suas propostas (leia texto a respeito na página anterior).
Os japoneses tentavam acomodar idéias conflitantes para que a reunião de dez dias tenha sucesso.
Por trás da babel de delegações de mais de 150 países, que juntamente com a imprensa internacional somavam cerca de 10 mil invasores na ex-capital do Japão, está o chamado "efeito estufa" -o aquecimento do planeta provocado por gases como o dióxido de carbono (aquele do refrigerante).
Sem esse efeito, a Terra seria um deserto gelado, pois os gases na atmosfera aprisionam a radiação solar. Mas o excesso de gases pode criar distúrbios climáticos graves.
A conferência de agora é a primeira a tentar definir parâmetros legais para a emissão desses gases. A sua base é a convenção sobre mudanças climáticas assinada na Eco-92, no Rio de Janeiro.
"Estou cautelosamente otimista", disse o diplomata japonês Toshiaki Tanabe. Para ele, o importante é conseguir "um objetivo realista e factível".
Já o presidente da conferência, Hiroshi Ohki, ministro do Meio Ambiente do Japão, lembrou a razão da dificuldade de acordo, ao citar o objetivo ideal: "Para estabilizar as concentrações de gases-estufa em níveis iguais a duas vezes os da era pré-industrial, as emissões terão de ser menos de 50% dos níveis de hoje".
Reduzir tão drasticamente a emissão desses gases equivaleria a modificar radicalmente toda a civilização moderna -sua economia industrial e agropecuária.
O dióxido de carbono -o mais importante dos gases- é produzido principalmente pela queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo) e desflorestamento. O metano e o óxido nitroso são produzidos pela atividade agrícola e mudanças no uso do solo.
O efeito estufa também é intensificado por gases produzidos em menor quantidade -como os CFCs, que também causam a diminuição da camada de ozônio.
Ou seja, reduzir a produção de qualquer um deles significa interferir na economia. A atual crise financeira na Ásia já esfriou os ânimos da região em buscar reduções.
Os EUA são apontados por muitos como o principal problema para se obter um acordo. Mas como se trata tanto do maior emissor de gases-estufa e da maior potência econômica da Terra, todos querem evitar assinar qualquer instrumento jurídico sem sua adesão.
Para a chefe da delegação americana, Melinda Kimble, a maneira pela qual um país usa a energia tem efeito direto na sua competitividade econômica. Por isso nenhum país deveria ser prejudicado por ter de readaptar sua indústria para emitir menos gases-estufa, diz ela.
Esse é o motivo pelo qual os EUA querem que os compromissos de redução dos gases também afetem países em desenvolvimento, especialmente a China, que poderá ser o maior emissor de gases-estufa no começo do próximo século.
Os americanos querem negociar um "direito de poluir" no mercado. Isto é, ao financiar projetos de redução de emissões no Terceiro Mundo, poderiam abater pontos em sua própria emissão de gases.
Mas, ao mesmo tempo, criticam os europeus por negociarem em conjunto, como se a Europa Ocidental fosse uma só "bolha" de gás. Além disso, os EUA querem que um acordo englobe os seis principais gases-estufa, enquanto que os europeus querem apenas os três principais, o que facilitaria o monitoramento das emissões.

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