São Paulo, terça-feira, 2 de dezembro de 1997
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Modelos

CLÓVIS ROSSI

Londres - Em entrevista ao jornal britânico "The Times", publicada ontem, o presidente Fernando Henrique Cardoso diz que vê o governo trabalhista de Tony Blair "como um modelo" para o que gostaria de fazer no Brasil".
Nada contra o modelo. Cada um, afinal, escolhe o seu.
O problema começa com o que é o modelo Blair, se é que existe, e o que é o governo FHC. Blair adotou de seus antecessores conservadores a rigidez orçamentária, de forma a manter sob controle a inflação.
Até aí, tudo bem. Orçamentos equilibrados não são (ou não deveriam ser) uma questão ideológica. E manter a inflação baixa é um dever elementar, e não parte integrante de um modelo qualquer a imitar.
A parte mais, digamos, saborosa do modelo Blair seria o fato (até agora mais suposto do que real) de que tenta combinar esse rigor nas finanças públicas com um carinho extra para com o lado social.
Difícil, nesse ponto, falar em modelo Blair. Assim como seria injusto dizer que ele é apenas um conservador travestido de social-democrata.
O que Blair fez até agora é criar um imposto (cobrado uma única vez) sobre os lucros das empresas privatizadas e usar esses recursos para educação, emprego e treinamento. Vai destinar, igualmente, 30% do que arrecadam as loterias esportivas britânicas para o investimento social.
Não deixa de ser uma forma criativa de, mantido o orçamento, descolar dinheiro para o social. Mas, com apenas sete meses de gestão, é prematuro dizer que há um modelo Blair e, mais ainda, que possa ser imitado.
Até porque FHC não pode imitar o imposto sobre os lucros das companhias privatizadas. Ainda que houvesse vontade política de fazê-lo, o que é discutível, não há espaço prático para introduzi-lo. Afugentaria candidatos a novas privatizações.
FHC fica, portanto, devendo a imitação social, para não mencionar o equilíbrio orçamentário.

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