São Paulo, terça-feira, 2 de dezembro de 1997
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La cucaracha

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - O presidente do México vai a Londres depois de ter avançado para trás na questão do aumento do Imposto de Renda. O Jô Soares há tempos fazia um personagem bolado pelo genial Max Nunes: um técnico de futebol otimista, risonho, que perdia sempre, mas tudo atribuía a uma fase má.
O bordão do personagem era: "É a fase! É a fase!". Será mais ou menos isso o que FHC dirá na Inglaterra, onde será recebido, na certa, ao som de "Farolito", "Noches de Ronda" e da inevitável "La Cucaracha" -música emblemática cujo título é usado até hoje para definir (e explicar) certo tipo de político latino-americano.
Os íntimos de corte garantem que S. Exa. adora essas viagens, essas recepções oficiais. Mesmo quando pensam que ele representa o México ou a Bolívia, seu sorriso continua alvar, como se a sua pessoa física fosse realmente a causa das homenagens protocolares que recebe.
Tivemos esta semana a entrevista de Collor à "IstoÉ". Pretendo comentá-la mais tarde. Por ora, destaco aquele trechinho em que o ex-presidente diz que recebeu ajuda quase clandestina daquele senador que com ele se sentou no sofá no dia da posse. E que, apesar de ser membro da oposição, todo mundo sabia que queria ser ministro de Collor e só não chegou lá porque o carrancudo Mário Covas amarrou a cara.
A fase de S. Exa. realmente é má. A recessão tende a crescer e os índices de sua popularidade tendem a baixar, sendo que na classe média o seu conceito começa a desabar. E a classe média é a espinha dorsal de uma nação -dizia o conselheiro Acácio.
O lapso de língua do presidente francês, considerando-o mexicano, tende a se repetir com mais frequência daqui para a frente. Com essa história de globalização, Brasil, México, Paraguai, aos olhos de um europeu, são tudo a mesma coisa. E FHC colabora para isso, agindo como legítimo cucaracha no cenário internacional.

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