São Paulo, quinta-feira, 4 de dezembro de 1997
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'Quem não faz escândalo, não existe'

RITA NAZARETH
DA REPORTAGEM LOCAL

É no grito ou com indicações de amigos ou parentes que muitas pessoas que passam pelos prontos-socorros de hospitais públicos de São Paulo são atendidas.
"Quem não faz escândalo, não existe para esses hospitais", diz a empregada doméstica Vera Lúcia da Silva, 42, que teve um derrame e ficou quase sete horas esperando atendimento no Hospital Estadual Heliópolis, na zona sul.
Já a dona-de-casa Benedita Gerônimo, 67, que chegou com fortes dores abdominais, teve de ficar na sala de espera do PS do hospital por mais de uma hora e meia.
Segundo informações de um funcionário que não quis se identificar, o hospital de Heliópolis só tem um médico nos plantões de segunda e terça. "São os próprios parentes que transportam pacientes em macas e cadeiras de rodas."
"Além de não ajudarem, os funcionários não dão informações precisas", diz Lucia Barbosa, parente de Sebastião Alcântara, que caiu sexta-feira de um andaime.
"Primeiro nos disseram que ele estava com os dedos do pé quebrados e depois, que ele tinha perdido a orelha", diz Lucia. "Hoje nos informaram que ele pode ter fraturado a coluna, mas até agora não conseguimos vê-lo."
"Você pode desmaiar que eles não estão nem aí", diz a dona-de-casa Josefa da Silva, que levou sua filha Shirley da Silva, 15, ao Hospital Municipal de Itaquera.
Shirley chegou a desmaiar na fila do pronto-socorro do hospital e ficou sem atendimento por pelo menos três horas. "Com minha outra filha que teve pneumonia foi a mesma coisa", diz Josefa. "Fiquei quase um dia esperando."
"Fui atendido em meia hora porque tenho uma amiga que trabalha aqui", diz um paciente que não quis se identificar. "Mas tenho pena dessa gente que implora para ser atendida."

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