São Paulo, sexta-feira, 5 de dezembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Preso do trânsito usa blasfêmia como escape

RITA NAZARETH
DA REPORTAGEM LOCAL

Pessoas gritando sozinhas, dando murros no volante, blasfemando contra a Prefeitura de São Paulo e contra São Pedro.
Esse foi o cenário da cidade ontem, quando motoristas faziam conversões proibidas para tentar fugir do trânsito parado nas principais ruas da cidade.
Quando chove, há mais carros nas ruas, eles andam com menor velocidade (os motoristas têm mais medo de bater) e os buracos que aparecem com as águas complicam ainda mais o trânsito e afetam o humor das pessoas.
"É a prefeitura, é a chuva, é a sujeira do bueiro, é o rodízio malfeito, é o Tietê que sobe, é a falta de educação do paulistano. Tenho vontade de sumir da cidade nessas horas", dizia ontem a bancária Maria Aparecida Magalhães Panelli, 38, presa dentro de um táxi.
Ela pretendia pagar R$ 7,00 para ir da praça do Patriarca (centro) até a Casa Verde (zona norte), onde mora. Com o trânsito, pagou R$ 20,10.
Mas não era somente o custo da viagem que preocupava a passageira durante o percurso. "A moça que cuida dos meus filhos tinha de ir embora às 16h."
Tremendo para falar, Maria Aparecida desceu do carro às 16h30, em frente ao seu prédio. "Espero que meus filhos estejam bem", disse.
Motorista
"Trabalho há 40 anos na 'praça' e nunca vi a cidade tão bagunçada como hoje", disse o motorista de táxi Nivaldo Batista, 60, que levou Maria Aparecida para casa.
"Muita gente pensa que taxista fatura muito em dia de chuva, mas não em uma cidade caótica como São Paulo", diz. "Se o trânsito não anda, ninguém vai querer pegar um táxi."
Batista conta que levou mais de duas horas para ir do Brooklin (zona sudoeste) ao centro da cidade na manhã de ontem. "Na avenida Ibirapuera, os carros param em fila dupla. Quem passa desse jeito?", pergunta o taxista.
"Já não há mais caminhos alternativos em São Paulo", afirmou o dentista Mário Fernandes, 44.
Ele já chegou a levar quatro horas para fazer o trajeto do Ipiranga (zona sudeste) para Campo Belo (zona sudoeste) e de lá para a Casa Verde (zona norte). "Esse percurso pode ser feito em uma hora, cortando caminho pela avenida do Estado", afirma o dentista. "Mas, em um dia chuvoso como hoje, estou parado na avenida há mais de meia hora."
Sem saída
"Será que a saída é não sair de casa?", pergunta o dentista. "Pode ser ir a pé", diz a procuradora Maria Almeida, 28, que levou 40 minutos para ir da rua Pamplona à rua Peixoto Gomide, que ficam a poucos metros uma da outra.

Texto Anterior: Para CET, chuva pára tráfego
Próximo Texto: Prefeitura libera R$ 500 mil
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.