São Paulo, sexta-feira, 5 de dezembro de 1997
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'Terapia...' discute tabus e enfrenta censura

ADRIANE GRAU
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM SAN FRANCISCO

Quando resolveu escrever e dirigir a história de um casal que tenta superar, por meio de terapia sexual, a falta de intimidade no casamento e acaba batendo de frente com o grande tabu da traição, o diretor iniciante Lance Young sabia que enfrentaria dificuldades.
"Bliss - Terapia do Prazer", que estréia hoje, narra a história de Joseph (Craig Seffer) e Maria (Sherryl Lee), recém-casados que se descobrem infelizes no sexo. Até que Maria busca o auxílio de um terapeuta nada convencional, com quem passa a ter relações.
Logo de início, o roteiro de Young foi recusado por cinco estúdios. O diretor conversou com a reportagem da Folha depois da estréia americana do filme na noite de abertura do 40º San Francisco Film Festival, em abril deste ano.
Young afirma que foi mais difícil lidar com a Motion Picture Association of America (MPAA) do que conseguir financiamento para o projeto. A MPAA é a instituição dos Estados Unidos encarregada da classificação dos filmes, visando a audiência adequada.
"Terapia do Prazer" chegou a receber a classificação NC-17, que impede que menores de 17 anos sejam admitidos nos cinemas.
"Violência e sangue deveriam receber tal classificação", diz o Lance Young. "Nenhum estúdio quer lançar um filme NC-17, pois isso representa enormes perdas de bilheteria."
Mesmo sem mostrar cenas de sexo explícito, Young afirma que teve que eliminar duas sequências que continham "exposição de corpos nus" para conseguir mudar a classificação para R, que admite que menores de 17 anos assistam ao filme acompanhados por um adulto.
Para Young, a atitude mostra um receio infundado por parte da indústria cinematográfica, que impede que cineastas mostrem seus trabalhos da maneira como foram concebidos. "A MPAA nem consegue explicar os motivos da classificação", diz ele. "Tem um problema com excesso de erotismo, mas não é capaz de explicar o que, exatamente, quer evitar."
O cartaz do filme também teve que ser modificado para passar pelo crivo da MPAA. A versão original mostrava dois corpos entrelaçados numa fotografia em preto-e-branco que incluía pernas. O novo cartaz apresenta apenas dois torsos abraçados.
Para a atriz Sherryl Lee, a classificação do filme pode impedir que adolescentes que vivenciam, de alguma forma, o abuso, tenham um importante instrumento para entender o seu próprio drama.
"É um assunto que deveria ser discutido nos níveis mais amplos", diz ela, que frequentou vários grupos de apoio a vítimas de abuso sexual para entender melhor sua personagem. "Muitas meninas sofrem abuso porque os pais não estão atentos", completa.

Filme: Bliss - Terapia do Prazer
Produção: Estados Unidos, 1997
Direção: Lance Young
Com: Craig Sheffer, Sherryl Lee, Terence Stamp
Quando: a partir de hoje, nos cines Paissandu, Eldorado 2, Gazeta, Off Price, Studio Alvorada 2 e circuito

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