São Paulo, sexta-feira, 5 de dezembro de 1997 |
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Otimismo e irrealismo
CLÓVIS ROSSI Londres - Uma das funções do governante é vender otimismo a respeito de seu país, mais ainda no exterior.Mas nem sempre é claro o limite entre otimismo e irrealismo. O presidente Fernando Henrique Cardoso pode ter ultrapassado essa fronteira ontem, ao dizer que será "relativamente pequeno" o sacrifício imposto à sociedade brasileira pelas medidas adotadas pelo governo para enfrentar as sequelas da crise asiática. Dá até para arriscar medir o tamanho do sacrifício: se se cumprir a previsão com a qual trabalha o BNDES (crescimento de apenas 1,5% em 98), haverá uma diferença para menos de 2,5 pontos percentuais na riqueza brasileira, em comparação à média dos últimos anos (4%). Em dinheiro, esses 2,5 pontos significam algo em torno de US$ 18 bilhões. Não dá para dizer que é uma quantia "pequena". Menos ainda é aceitável dizer, como o fez ontem o presidente, que sofrerão mais os que têm rendas maiores. Em qualquer país do mundo, a desaceleração da economia causa mais dores nos que menos podem se defender e que são os que menos têm. FHC tem, sim, razão quando diz que "o sacrifício é pequeno, se comparado à vantagem de ter uma moeda estável". Uma desvalorização desordenada do real tenderia a criar o pior dos mundos: a inflação poderia voltar, sem qualquer garantia de que a atividade econômica não caísse. O diabo é que o presidente não pode jurar por Deus que a estabilidade está assegurada. Ele próprio vem admitindo, com frequência crescente, que não tem, como não o tem outros governantes, o total controle da situação. Na terça-feira, por exemplo, disse que "o custo e o ritmo dos avanços poderão ser afetados por circunstâncias externas". Vale lembrar uma única circunstância externa: há escassos dois meses, quem dissesse que a Coréia iria de joelhos ao FMI seria internado no primeiro hospício da esquina. Hoje... Texto Anterior: O SEQUESTRO DOS ÔNIBUS Próximo Texto: O rebotalho Índice |
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