São Paulo, sexta-feira, 5 de dezembro de 1997
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A fome e a solidariedade

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - A mobilização pela campanha contra a fome revelou um dado surpreendente este ano aqui no Rio: a participação da população favelada como doadora de alimento, e não mais apenas como beneficiária da solidariedade alheia.
Nada menos que 10 toneladas de alimentos não perecíveis foram recolhidos em 144 comunidades faveladas do Rio de Janeiro, dentro do programa "A favela dá o exemplo", promovido pelo movimento Viva Rio.
Deu um exemplo, de fato, que deveria ser copiado pelas famílias mais bem aquinhoadas pela sorte e, principalmente, pelas empresas, cuja participação nesse tipo de iniciativa, idealizada pelo Betinho, é tão fundamental quanto obrigatória.
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Mais uma vez a polícia do Rio se omite e permite cenas de barbarismo num espetáculo de futebol. Na quarta-feira, um rapaz foi violentamente espancado nas arquibancadas do Maracanã, por pouco não foi linchado, sem que um único policial fosse captado pelas câmeras de TV, que tudo registravam.
Em outro jogo, no mesmo local, a polícia já dera demonstrações de inoperância, deixando de coibir brigas e depredações.
Prometeu reagir, mas pelo que se viu, deve estar ocupada demais atrás das gratificações que seus comandantes oferecem para os policiais que matam bandido.
Se não, terá sido negligência ou incompetência.
Espera-se, agora, que o chamado serviço de inteligência da PM identifique e autue os agressores, perfeitamente reconhecíveis pelas imagens da TV.
*
Brasileira estabelecida em Londres, a fotógrafa Tina Leme passava anteontem de táxi (um daqueles pretinhos superbacanas) pela avenida que liga a Trafalgar Square ao palácio de Buckingham.
Ao ver as dezenas de bandeiras brasileiras que adornavam a avenida, ela perguntou ao motorista do táxi se ele sabia de que país eram. Resposta do taxista inglês:
"Da Nigéria".

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