São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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Brasil ficará 'menor' para oposição em 98

Falta de dinheiro é problema para Lula e Ciro

LUÍS COSTA PINTO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil ficará menor, menos continental, durante a campanha presidencial do próximo ano. Calma: a redução do mapa do país não está sendo ordenada por nenhuma medida provisória do governo destinada a conter a evasão de capitais em razão da crise das Bolsas, mas sim pela necessidade de conter despesas à qual estão atados PT e PPS, principais partidos de oposição ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
José Dirceu, presidente do PT, e o senador Roberto Freire, presidente do PPS, acham que, em virtude do dinheiro escasso, seus presidenciáveis -Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PPS) -não terão visitado nem 10% dos quase 5.600 municípios brasileiros ao final da campanha de 98.
Candidato a presidente da República em 94, Lula esteve em 1.200 cidades espalhadas pelos 27 Estados do Brasil entre maio de 93 e setembro de 94. Contabilizou 41 mil km percorridos pelas "caravanas da cidadania", nome com o qual batizou seu programa de campanha na última eleição.
Formadores de opinião
O senador Roberto Freire, candidato a presidente em 89 pelo extinto PCB (Partido Comunista Brasileiro), prevê um tortuoso caminho para Ciro Gomes tornar sua candidatura conhecida na classe média e entre os formadores de opinião.
Ele já traçou uma estratégia: levar seu candidato, pelo menos, aos 500 municípios-pólos do país -cidades com mais de 150 mil habitantes e centros de importância regional- e organizar vários debates para que ele exponha seu programa e suas diferenças para com FHC e a esquerda de Lula.
"Ciro ainda estará na sua primeira campanha, ainda é jovem e é bom de debate. Adora públicos dispostos a escutá-lo. Eventos como esses que estamos planejando irão tornar o seu nome conhecido. Os programas de rádio e TV deverão ser apenas um suporte para esta estratégia", explica Freire.
O PT joga as suas fichas na aposta de que terá bons palanques estaduais nos quais Lula possa subir. Em 94, o partido arrecadou R$ 4,2 milhões em doações. Gastou tudo numa campanha considerada cara para seus padrões.
Agora, os petistas imaginam que precisariam gastar 50% a mais para fazer uma propaganda do mesmo nível da passada, mas conformam-se diante da perspectiva de arrecadar metade das verbas de 94.
Palanques
É por isso que o PT corre tanto atrás de boas alianças nos Estados. No Rio de Janeiro, terceiro colégio eleitoral do país, a cabeça da chapa ao governo deve ser cedida ao PDT. Em Minas Gerais, segundo Estado em número de eleitores, a engenharia se inverte: o ex-prefeito de Belo Horizonte Patrus Ananias (PT) disputará o governo e a senadora Júnia Marize (PDT) tentará se reeleger apoiando-o.
Em São Paulo, Estado mais populoso do Brasil, o PT terá candidato próprio ao governo sem muitas chances de eleição e tenta fazer um acordo com o pedetista Francisco Rossi, pré-candidato ao governo ou ao Senado.
No Rio Grande do Sul, a dupla petista Olívio Dutra e Tarso Genro tem condições de vencer a eleição estadual para governador e senador e forma um palanque fortíssimo para Lula. O PPS, por sua vez, só possui candidato expressivo em Santa Catarina, o ex-prefeito de Florianópolis Sérgio Grando.
"Além dos grandes Estados, onde sempre somos bem votados, estamos bem no Acre, no Pará, no Piauí, em Pernambuco, na Bahia, no Mato Grosso do Sul e em Brasília. No Paraná, no Amazonas e no Ceará poderemos nos sair bem se fizermos boas coligações, portanto nossa situação é diferente da do PPS", crê José Dirceu.
Viagens de FHC
A estrutura do presidente Fernando Henrique, candidato à reeleição, será bem diferente. Nestes três anos de mandato, ele esteve em 77 cidades diferentes do Brasil, de Iauaretê e São Gabriel da Cachoeira (Amazonas) a Uruguaiana (Rio Grande do Sul).
Os responsáveis por sua agenda marcam, invariavelmente, ao menos duas viagens por mês dentro para cidades que não sejam Rio de Janeiro ou São Paulo -FHC esteve, em média, ao menos uma vez por mês nestas duas últimas cidades desde janeiro de 95. Um dos responsáveis por sua agenda diz que FHC não está fazendo campanha, e sim presidindo o país.
A repercussão e a cobertura que a imprensa dispensa a estes deslocamentos de FHC incomodam a oposição. "Ao viajar, dizendo que está trabalhando, mas fazendo campanha, o Fernando Henrique desloca com ele todos os jornais, rádios e televisões. Todo mundo fica sabendo onde ele esteve, fazendo o que e pronunciando qual discurso. Concorrer com ele, ou melhor, contra um presidente exercendo o mandato, é uma briga desigual", lamenta-se Lula.

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