São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997 |
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Crianças com câncer têm terapia virtual
AURELIANO BIANCARELLI
Abatida diante da TV, incomodada com a dor e o soro no braço, Juliana dá um salto e fixa os olhos na Camila. "Ah, vejo que você trouxe seu ursinho", diz o boneco na tela. Juliana não acredita. "O desenho está falando comigo", ela repete para a mãe. Cinco minutos depois, Juliana parece à vontade. Conta à sua nova amiga o que está fazendo naquela sala, não reclama mais da agulha espetada nem quer ir embora. A sala é um dos ambulatórios do Hospital Alberto Einstein onde crianças com câncer recebem aplicações de quimioterapia. Juliana, 5, é o nome fictício de um desses pequenos pacientes. E a Camela Camila é o personagem que materializa uma inédita associação entre realidade virtual e psicologia. Numa sala ao lado, longe do olhar das crianças, está um terapeuta que comanda os gestos e expressões da Camila. Um capacete com fios e antenas, botões num painel e censores no rosto permitem que o profissional dê vida ao personagem. Por meio de uma câmara instalada na sala, ele ouve e vê a criança. Terapeuta e paciente conversam em tempo real. A nova técnica não pretende substituir o terapeuta. "O personagem é um elemento facilitador", diz a psicóloga Vera Regina Berlinck, orientadora do projeto. "A criança tem um lado mágico e de fantasia que a acalma." O trabalho faz parte de um projeto-piloto desenvolvido no início do ano por uma equipe do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicologia Virtual. Os resultados, que estão sendo divulgados agora, abrem um mundo novo na relação entre psicologia e realidade virtual. "O trabalho do Einstein era lúdico", diz Ana Maria Figueira Cergueira, psicóloga do núcleo. "A próxima fase será uma pesquisa em psicoterapia." O objetivo do projeto do Einstein era saber se esse novo recurso tinha respostas psicoterápicas positivas. "A resposta é sim", diz Luci Fragnan, psicóloga do núcleo. Resposta Entre as manifestações positivas observadas está a resposta quase imediata da criança. Muitas delas estavam em tratamento pós-transplante de medula, recebendo transfusão de sangue ou aplicações de radio ou quimioterapia. "Esses quadros levam a criança a uma grande preocupação com a morte, o que gera estresse, angústia e depressão", diz Luci. Um terapeuta que fosse apresentado à criança nessas circunstâncias necessitaria de um tempo muito maior para obter resposta. "No caso do personagem, a interação foi imediata", diz Luci. Outro ponto positivo foi a qualidade dessa resposta. "Espontaneamente, as crianças começavam a falar sobre elas, sobre os pais, a escola, a doença, a comida, a roupa que usava", diz Ana. O estudo também destacou as mudanças das crianças diante dos personagens. De quietas e desanimadas, passavam a gesticular, falar e até cantar. Para as psicólogas, a resposta das crianças permite concluir que o ambiente virtual pode ser utilizado em psicoterapia. E-mail nepsicovr@usway.com Texto Anterior: Curso ensina como tratar Próximo Texto: Camela Camila não substitui psicoterapia Índice |
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