São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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Carro e eletroeletrônico devem cortar mais

MAURO ARBEX; FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

As demissões poderão atingir mais duramente, em 1998, a indústria eletroeletrônica e as montadoras de veículos, que vêm registrando forte queda de vendas neste final de ano.
Empresas desses setores já anunciaram a intenção de dispensar empregados ou buscam alternativas para evitar as demissões em massa.
Na Zona Franca de Manaus, onde se concentra a produção de televisores, aparelhos de som e videocassetes, há uma estimativa de corte de 4.000 pessoas em janeiro, após o término das férias coletivas.
Conforme o Sindicato dos Metalúrgicos do Estado do Amazonas, que reúne 35 mil trabalhadores do setor, as demissões podem chegar a 6.000 até junho de 1998.
"É a pior crise da nossa categoria desde a abertura da economia no início dos anos 90", diz Valdemir Santana, diretor financeiro do sindicato.
Atenta à crise, a coreana L.G., grande fabricante de TVs e fornos de microondas, com sede em Manaus, por exemplo, decidiu reavaliar investimentos de US$ 1 bilhão programados para o país até 2005.
Redução de salários
A indústria automobilística, que vinha apresentando até outubro recordes sucessivos de vendas, viu a situação se inverter no mês passado, após as alta nos juros e o aumento do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados).
A produção e a venda de veículos no atacado em novembro despencaram 33% em relação a outubro, e a expectativa para dezembro é de uma queda de mais 15%.
Essa situação já levou a Volkswagen, uma das maiores montadoras do país, a propor a seus trabalhadores a redução em 20% do salário e da jornada de trabalho, como forma de evitar a demissão de 10 mil pessoas, um terço do quadro de pessoal da empresa.
A Honda, que inaugurou há dois meses a sua fábrica de veículos em Sumaré, na região de Campinas, surpreendeu o mercado na semana passada ao convocar férias coletivas para seus 370 funcionários.
A indústria de autopeças, fornecedora de matérias-primas para as montadoras, também busca alternativas para evitar demissões.
O Sindipeças, que reúne as empresas de autopeças, está propondo um corte de 15% nos salários e de 25% na jornada de trabalho. Com isso, as dispensas previstas pelo setor, de até 8 mil pessoas no próximo ano, poderiam ser reduzidas.
As empresas têxteis ainda não cogitam corte de funcionários, mas já registram forte queda do consumo, o que pode levá-las a reavaliar o ritmo das vendas e da produção e o quadro de pessoal no começo de 1998.
"Há uma preocupação generalizada entre as empresas, o que levou várias delas a esticar as férias coletivas. As demissões dependem ainda do desempenho das vendas no Natal", afirma Paulo Skaf, vice-presidente da Abit, associação dos fabricantes de têxteis.
Para as indústrias de brinquedos, se as taxas de juros não baixarem ainda no primeiro trimestre do ano que vem, as empresas terão dificuldade para retomar a produção a partir de abril.
Os fabricantes não falam em cortes e pretendem cumprir o acordo com o governo, que prevê uma redução nas alíquotas de importação até o ano 2000 em troca de aumento do número de funcionários.
"Se os juros permanecerem altos, vai ser difícil produzir", diz Synesio Batista da Costa, presidente da Abrinq, associação que reúne os fabricantes.
Na construção civil, a expectativa do Secovi (o sindicato da habitação de São Paulo) é que a queda na venda de imóveis a partir de novembro possa se refletir no corte de pessoal no segundo trimestre do próximo ano.
Na sexta-feira, em reunião com o setor de bens de capital, o ministro do Trabalho, Paulo Paiva, afirmou que a solução para manter o emprego no país é a livre negociação entre empresário e trabalhador.
O ministro defendeu a proposta de corte nos salários com redução de jornada de trabalho como forma de evitar mais demissões.
(MAURO ARBEX E FÁTIMA FERNANDES)

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