São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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Campeão vê racismo em 'concorrentes'

FERNANDA PAPA
DA REPORTAGEM LOCAL

O título que Victor Ribas, 26, conquistou na última quinta, no WQS (World Qualifying Series) -a segunda divisão do surfe mundial-, no Havaí, é o resultado mais expressivo do brasileiro em sete anos de circuito profissional.
"Mas é preciso que um surfista do Brasil faça alguma coisa ainda mais importante, como vencer etapas do WCT, ou o próprio WCT -a primeira divisão do surfe mundial- para que reconheçam o nosso valor", diz Ribas.
Segundo ele, o surfe brasileiro sofre "racismo" por parte dos atletas e da mídia dos EUA e Austrália, as duas maiores potências da modalidade no mundo. O Brasil aparece em terceiro.
"Quando um americano ou um australiano perde para brasileiro, acha que perdeu para um cara pior, xinga, quebra a prancha, não dá entrevista", conta Ribas.
"Fiquei até surpreso quando o Beau Emerton saiu da água e veio me dar os parabéns porque sabia que eu tinha ficado com o título. Foi 'maneiríssimo' (muito legal) da parte dele", completa o surfista.
Emerton, 22, é australiano e único concorrente que poderia ter tirado o título de Ribas, caso tivesse passado as quartas-de-final, na disputa em Sunset Beach, quinta-feira.
Ribas diz acreditar que o surfe brasileiro não está muito atrás do norte-americano e do australiano. Nesta temporada, por exemplo, o catarinense Neco Padaratz aparece na sexta colocação do WCT. Ribas já ocupou esse lugar, em 1995.
"Mas, mesmo assim, não se lê uma linha sobre a gente em revistas australianas e americanas. Dificilmente damos entrevista, é tipo um racismo, fingem que a gente não existe", comenta.
Para Ribas, receptividade como no Brasil não existe. França e Espanha, no entanto, passam perto.
"Mas o surfista brasileiro é mais unido. A gente se junta e sempre faz barulhinho. O segurança do condomínio em que estamos -no Havaí- disse que nunca tinha visto tanta gente junta na piscina. Era a comemoração do meu título."
Vencer mais
Campeão brasileiro e do WQS em 97, Ribas acredita ser chegada a hora de pensar em vencer o WCT.
"Sou uma pessoa que está madura para para tentar esse título. Mas acredito que o Herdy (Guilherme), o Neco (Padaratz) e o Peterson (Rosa) também podem conseguir", afirma o surfista.
"A gente precisa mostrar mais constância, tem que surfar legal, estar com a cabeça legal. Não é impossível", completa.
A etapa de Pipeline, que encerra o WCT a partir de amanhã, é mais um desafio. "Sei que é difícil. Mas se eu ganhar, fico entre os 16 do WCT. Seria a perfeição em 97 para mim. E eu ganharia respeito."

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