São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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Diretor do FBI sai desgastado do caso

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Qualquer técnico de time de futebol do interior do Brasil teria entendido a mensagem e pedido demissão. Quando um repórter perguntou se o diretor da polícia federal (FBI) tem a confiança do presidente dos EUA, o porta-voz de Bill Clinton respondeu: "O presidente tem confiança que Louis Freeh está fazendo o melhor que ele pode".
Outro repórter provocou o porta-voz Mike McCurry com a questão de que sua declaração representava bem menos do que um endosso de Clinton ao diretor do FBI. Ele respondeu: "Sou muito cuidadoso ao escolher as palavras".
Mais claro, impossível. Freeh, que assumiu o FBI por indicação de Clinton em 1993, não está mais "prestigiado" como se diz no linguajar futebolístico brasileiro. Ou ele se demite ou vai ser fritado.
O motivo é claríssimo: Freeh discordou ostensivamente da decisão da secretária Janet Reno de não constituir promotor independente para o caso das suspeitas sobre o financiamento da campanha de reeleição do presidente.
O diretor do FBI acha que houve duas conspirações no caso: uma, do Partido Democrata, com possível conhecimento e aprovação da Casa Branca, sede do governo dos EUA, para usar na campanha dinheiro obtido ilicitamente ou doações que não poderiam, pela lei, ser empregadas na campanha presidencial. Outra, do governo da China, para influenciar o resultado das eleições de 1996 em diversos níveis, inclusive o presidencial.
A oposição se aproveitou depressa da situação. Embora o Congresso esteja em recesso, o presidente da comissão de assuntos de reforma governamental, Dan Burton, convocou reunião extraordinária de seu grupo e convidou Reno e Freeh para deporem na próxima terça-feira. Ele também pediu cópia do memorando do diretor do FBI para a secretária da Justiça.
Mas Reno se recusou a entregar o documento, sob a alegação de que ele precisa ser preservado para se garantir a continuidade das investigações sobre todo o episódio.
Clinton está furioso com Freeh. Não só por ele ter se oposto a decisão de Reno, mas principalmente por ter deixado vazar seus motivos para a imprensa durante semanas.
Não há precedente de uma situação como essa na história da relação entre o presidente dos EUA e o diretor do FBI. O todo-poderoso J. Edgar Hoover teve célebres desavenças com John Kennedy, mas elas só vieram a ser conhecidas do público muitos anos depois. Hoover não se valeu da imprensa para revelar suspeitas sobre Kennedy.
Outro agravante no episódio é o fato de Freeh duvidar da independência de Reno. No seu memorando, ele argumenta que o Departamento da Justiça não tem condições de investigar acusações que pesam contra o presidente do país.
É bem possível que Freeh acabe resolvendo pela renúncia. Ele tem um mandato que vai até 2003 e só pode ser interrompido pelo presidente, que, evidentemente, não vai poder fazê-lo por enquanto porque o custo político da manobra seria altíssimo.
Advogado de prestígio, Freeh, 47, que tem cinco filhos meninos e está esperando o sexto filho, com certeza faria muito mais dinheiro na iniciativa privada do os US$ 136.600 que ganha do FBI. Sem metade das dores de cabeça.
(CELS)

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