São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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'Adversária íntima' de Clinton volta à cena

Secretária Janet Reno toma decisão pró-presidente

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Ao decidir esta semana que não vai constituir promotor independente para apurar denúncias de irregularidades no financiamento da campanha de reeleição do presidente Bill Clinton, a secretária da Justiça dos EUA, Janet Reno, voltou ao centro das atenções nacionais pela terceira vez desde 1993.
Ela é uma das pessoas da atual administração mais admiradas pelo público pelo espírito independente, que se manifestou desde o primeiro grave caso que teve nas mãos, a revolta da seita do Ramo Davidiano, em Waco, Texas, que terminou em tragédia, pela qual assumiu total responsabilidade.
Depois, por ter apontado quatro promotores independentes para investigar denúncias contra o governo Clinton, inclusive para o caso Whitewater, que envolve diretamente o presidente e sua mulher.
Desta vez, no entanto, Reno está sendo acusada de ter cedido às pressões de Clinton. Ela nunca foi a preferida do presidente. Por imposição da primeira-dama, Clinton se comprometeu a escolher uma mulher para chefiar o Departamento da Justiça. As duas primeiras opções se inviabilizaram por terem contratado imigrantes ilegais para babás de suas crianças.
Reno, 59, solteira, não tinha nenhum impedimento e havia ganhado fama pelo seu trabalho arrojado como promotora pública em Miami. Foi para Washington com a cara e a coragem e venceu.
Talvez esteja cometendo seu primeiro grave erro nesse episódio. Apesar de as acusações envolverem diversos aspectos, Reno resolveu se concentrar em apenas um: se Clinton e seu vice, Al Gore, violaram lei de 1883 que proíbe o uso de prédios públicos federais para solicitar voto quando falaram por telefone da Casa Branca com pessoas que fizeram doações para eles.
O possível desrespeito à Lei Pendleton era a denúncia menos importante contra a campanha de Clinton. Reno decidiu que a evidência inocenta Clinton e Gore. Segundo ela, o presidente falou com 68 contribuintes, mas sempre da ala doméstica da Casa Branca, que -na sua opinião- não é local de trabalho, como exige a Lei Pendleton para caracterizar crime.
Quanto a Gore, embora tenha feito 45 telefonemas para pedir dinheiro de seu escritório na Casa Branca, todos foram para beneficiar o Partido Democrata, não sua própria campanha. Aí está um dos problemas principais da decisão.
Porque Clinton e Gore (como seus opositores Dole e Kemp, por sinal) usaram em seu benefício o chamado "dinheiro mole", que é doado para o partido, não para a campanha. Após o escândalo de Watergate, na década de 70, a legislação limitou drasticamente as contribuições para campanhas presidenciais, que passaram a ser financiadas com dinheiro público.
Mas os políticos logo trataram de dar um "jeitinho", que não é exclusividade brasileira. Como ainda eram permitidas doações para os partidos políticos, estas foram incentivadas e o dinheiro resultante delas costuma ser desviado para as campanhas presidenciais. Investigar se Clinton usou "dinheiro mole" seria uma das funções primordiais do promotor independente.
Outra seria apurar se as doações ilegais feitas por empresas e cidadãos estrangeiras ao Partido Democrata ocorreram com o conhecimento e aval de Clinton. Ou se o presidente cedeu quartos na Casa Branca e assentos no avião presidencial e, como acaba de se denunciar, túmulos no cemitério nacional de Arlington, em troca de dinheiro para a sua campanha.
Em sua defesa, Reno diz que a investigação sobre esses outros pontos ainda não acabou na alçada de seu Departamento. O futuro dirá se ela chegará a algo concreto.

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