São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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'Diplomatiquês' desafia compreensão

RICARDO BONALUME NETO
DO ENVIADO ESPECIAL A KYOTO

George Orwell estaria indignado se conhecesse o palavrório em uso na conferência das Nações Unidas em Kyoto. Foi esse escritor quem criou a noção da "novilíngua", uma linguagem absurda utilizada por um estado totalitário no seu romance "1984". A língua se tornou nesse livro um instrumento de poder capaz de fazer as pessoas entenderem o oposto da realidade.
Orwell era um crítico mordaz do uso da língua para confundir, do uso de palavras rebuscadas, linguagem empolada e lugares-comuns que poluem o texto.
Já em Kyoto, o jargão da conferência impede que mortais comuns entendam a conferência. Não só os jornalistas, mas os próprios delegados dos países têm de perder tempo para assimilar o que são coisas como JUSSCANNZ, "bolha", "diferenciação", "sorvedouros" (ou "sumidouros", tradução para o inglês "sink", literalmente uma pia -substantivo- ou o verbo afundar).

UNFCCC-COP3
O "diplomatiquês" extremado está no próprio título da conferência -UNFCCC-COP3, sigla em inglês para Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima - Conferência das Partes, Terceira Sessão. E já há uma quarta sessão, planejada para Buenos Aires, capital da Argentina.
JUSSCANNZ é a sigla que se refere a alguns países desenvolvidos que fazem debates entre si -Japão, Estados Unidos, Suíça, Canadá, Noruega e Nova Zelândia.

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