São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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OS PARADOXOS DOS EUA

Diante da crise asiática e das dificuldades européias, os EUA confirmam sua liderança mundial. A era da globalização é antes de mais nada um tempo de predomínio econômico e militar norte-americano.
Esta realidade, entretanto, abriga também seus paradoxos. O maior deles está no fato de que, apesar da pujança norte-americana, o prestígio internacional dos EUA é menor do que seria possível supor. Outros são internos, pois tampouco há consenso em prol do "establishment".
É aliás curioso notar que os consensos pareciam mais fáceis no auge do confronto bipolar, em especial no final dos anos 50. Naquela época já havia uma supremacia dos EUA, embora menor que a atual. O "inimigo comum" comunista varria paradoxos e conflitos para baixo do tapete.
Mas, hoje, apesar da derrota do comunismo, não se pode falar que o modelo americano tenha tanto espaço para se impor como nos anos dourados. Internacionalmente, o predomínio norte-americano convive com incógnitas, como a China. E não evita regionalismos, começando pela resistência européia à política externa e econômica dos EUA. São fatos que causam fraturas num cenário que pareceria favorável a uma ordem sob o tacão dos Estados Unidos.
Há ainda outros paradoxos internos aos EUA, pois a maior potência é também a maior democracia mundial. Assim, o presidente Clinton não obteve do Congresso a autorização para o "fast track", instrumento crucial para ampliar uma autêntica "pax americana". Há também indicadores de aumento na concentração de renda e precarização das condições de emprego na economia dos EUA, apesar do crescimento vigoroso dos últimos anos. Por fim, mas não por menos, a própria permeabilidade dos EUA a sucessivas ondas migratórias vem criando um ambiente multicultural onde a formação de consensos é mais difícil.
O mínimo a dizer, reconhecida a hegemonia dos EUA, é que a história não acabou, como queria Fukuyama.

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