São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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Moda que incomoda

ELEONORA DE LUCENA

São Paulo - Como quem anuncia o fim da minissaia ou do espartilho, o diretor-gerente do FMI, Michael Camdessus, decretou a morte do modelo econômico seguido pelos tigres asiáticos. "Ele saiu de moda", declarou.
O mesmo aconteceu em 94 com o México. Depois de ter desfilado como exemplo para todos os países periféricos, o modelito do então "estadista" Carlos Salinas de Gortari despencou de uma estação para outra.
Quem segue a moda fica, assim, sem ter o que pensar. Afinal, não era para seguir o molde? Pena que a realidade não seja apenas uma discussão sobre estilo e comprimento de saias. Por trás da queda na passarela, os modelos rasgados escondem tragédias sociais que ficam longe dos holofotes.
Veja o caso da Coréia. Depois da guerra que dividiu o país nos anos 50, houve um crescimento vertiginoso, baseado em inversões externas e forte presença estatal. O lugar, estratégico, se transformou na 11ª economia do mundo. As exportações passaram de US$ 33 milhões, em 1960, para US$ 130 bilhões, no ano passado.
De repente, o modelo ideal despenca. Tudo estava costurado com linha podre. O tecido aparece consumido por traças. E quase ninguém notara que o modelo se desfiava na passarela.
Agora, para ter direito aos US$ 57 bilhões do socorro recorde do FMI para os bancos, a Coréia vai ter que encolher muito. O fundo exige um crescimento menor, abertura irrestrita do sistema financeiro a instituições estrangeiras e limites ao banco central. O desemprego vai aumentar, e os sindicatos tentam preparar greves.
No México, só para lembrar, a taxa de desemprego pulou de 3,7% em 94 para 6,2% em 95 -um ano após o desastre no país. No Brasil, o governo diz que já está implantando o receituário do fundo. A previsão oficial de crescimento para 98 está entre 0,5% e 2%, contra uma alta de até 4% para este ano. Estudos sobre desemprego apontam que ele deve saltar de 6,4% em 97 para até 8,4% no ano que vem. Para lembrar: a taxa estava em 4,3% em 89.
Onde estarão os novos estilistas?

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