São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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Só na borduna

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Depois de Maluf em São Paulo, Joaquim Roriz em Brasília e Newton Cardoso em Minas, Fernando Henrique Cardoso se aproxima de Amazonino Mendes no Amazonas.
É uma turma da pesada, reunindo os principais adversários do PSDB nesses Estados em 98. Os tucanos em pé de guerra.
"Como vai o Arthur?", perguntou FHC a Aécio Neves, antes de embarcar para Londres.
"Está com a cara pintada de vermelho, com uma borduna nas costas e batendo o pé no chão", disse o líder.
O "Arthur", no caso, é o secretário-geral do PSDB, Arthur Virgílio Neto, furioso com a estadualização do porto de Manaus.
Traduzindo: o poderoso porto do seu Estado está saindo do controle do tucano Seraphim Meirelles e indo de mão beijada para o inimigo Amazonino (PFL). E a dez meses das eleições.
Arthur mandou bilhete malcriado para o presidente e depois rascunhou uma carta pior ainda. Só não despachou o segundo texto porque o pessoal do deixa-disso entrou em ação.
A solução está sendo engatilhada para terça-feira: o deputado amazonense vai poder indicar seu grupo para outras vagas. O Incra local, por exemplo.
Não só Arthur Virgílio, mas boa parte dos tucanos decidiu ir à luta, especialmente depois que ACM falou grosso contra o aumento de impostos, faturou alto junto à opinião pública e conseguiu o recuo do governo.
Segundo a tucanada, há um fato novo: FHC acaba de descobrir que ACM e o PFL são ótimos aliados em época de vacas gordas, mas serão os primeiros a abandonar o pasto com as vacas magras. Aos tucanos, os ossos.
O núcleo parlamentar do PSDB busca avalistas para essa luta de afirmação diante do PFL. Nesta terça, tem jantar com Ruth Cardoso. Depois, encontro com Tasso Jereissati no Ceará.
É uma tentativa, enfim, de o PSDB recuperar espaço, discurso e força junto ao governo do correligionário FHC. Descobrindo, inclusive, que não adianta afugentar o PMDB. Na hora do pega pra capar com o PFL, o companheiro do passado pode se revelar a segurança do futuro.

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