São Paulo, segunda-feira, 8 de dezembro de 1997
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Viúva de Chico Mendes pode ser candidata a deputada

Ilzamar deixou o PT e está trabalhando para senador do PMDB

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A viúva do sindicalista Chico Mendes, Ilzamar Mendes, 34, poderá ser candidata a deputada estadual pelo PMDB nas eleições do ano que vem. Ela é funcionária do gabinete do senador Flaviano Mello (PMDB-AC) e recebe salário de R$ 1.221,79.
"A candidatura está em estudo", disse Ilzamar à Folha. Sua candidatura vai esquentar a disputa com o PT, partido ao qual Chico Mendes (1944-1988) era ligado.
A viúva do sindicalista afirmou que foi abandonada pelo partido. Por isso teria aceitado o emprego oferecido pelo senador do PMDB.
"Eu não tinha condições nem de me manter, quanto mais ajudar os seringueiros. O senador me convidou para trabalhar com ele no Senado. Estou à disposição do gabinete dele aqui no Acre, onde faço o meu trabalho", explicou.
A senadora Marina Silva (PT-AC) disse que Ilzamar "tem o direito de ser candidata". Mas acrescentou: "Lamento que pessoas inescrupulosas, que sempre trataram Chico Mendes com indiferença quando ele pedia proteção, aproveitem-se da situação para tirar proveito eleitoral".
Mello era governador quando o sindicalista foi morto.
A senadora Marina afirmou que um jornal de Rio Branco, que seria controlado pelo governador, "ridicularizava" o sindicalista quando ele avisava que seria assassinado.
Ela afirmou que "não é verdade que Ilzamar tenha sido abandonada pelo PT", mas não quis responder às acusações da viúva. "Não posso atacar a Ilza. Seria muito doloroso para o Chico eu falar qualquer coisa que a ofenda. Ele a amava muito."
Ilzamar disse que usaria o mandato para trabalhar pelos seringueiros, que estariam abandonados e deixando os seringais.
"O PT tem muito discurso e pouca prática. Hoje, qual o apoio do partido para Xapuri (cidade de Mendes)? A cooperativa faliu com a direção deles. A senadora Marina tem se empenhado, mas apóia pessoas irresponsáveis, que não têm compromisso com os trabalhadores", disse a viúva.
Marina afirmou que ela e os dirigentes da cooperativa têm feito o que é possível. "É difícil uma economia como a nossa enfrentar o mercado internacional. Mas temos conseguido algumas coisas, como o subsídio para a borracha, além de linhas de crédito para os seringueiros."
Flaviano Mello disse que teve um bom relacionamento com Chico Mendes. "Construímos escolas para os filhos dos seringueiros, num trabalho conjunto. Tínhamos uma relação muito boa. Depois de sua morte, demos todo o apoio a sua família", afirmou o senador.
A Folha voltou a procurar Mello ontem para que comentasse as declarações de Marina Silva, mas não o localizou.

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