São Paulo, segunda-feira, 8 de dezembro de 1997
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As prioridades científicas

LUÍS NASSIF

Dos mais de 90 e-mails que recebi de cientistas brasileiros de todas as partes do mundo -a propósito das discussões sobre os princípios que deveriam nortear a pesquisa científica no Brasil-, a primeira sugestão criativa é a respeito do método de definir prioridades de pesquisa no Brasil. É do professor Nicolao Jannuzzi, físico aposentado do Instituto de Física da Unicamp.
Os poucos institutos de pesquisa e departamentos que têm procurado dirigir seus programas para o atendimento de prioridades nacionais esbarram em uma dúvida: quais são essas prioridades?
É o caso do Instituto de Física da Universidade Federal do Paraná. Para montar o planejamento estratégico para um programa interdisciplinar, envolveu nas discussões físicos, químicos, engenheiros e pesquisadores do laboratório de pesquisa da Copel-UFPR. Tudo conforme manda o figurino.
Empacaram na dúvida: quais são as atividades de pesquisa de real interesse tecnológico para o país? Praticamente não havia uma fonte, em nível de governo, federações de indústria, secretarias estaduais, que apresentasse uma lista coerente de demanda por pesquisa.
Sistema de informações
A receita de Jannuzzi é fundada no bom senso e no uso inteligente das novas tecnologias de informação. É ela:
* O Ministério de Ciência e Tecnologia mais o Ministério da Educação identificariam, no âmbito dos vários ministérios, os problemas existentes passíveis de pesquisa e os difundiriam junto aos pesquisadores de nossas universidades e centros de P&D.
* A apresentação de problemas nacionais permitiria que, de acordo com a competência, conhecimento e equipamento disponível, profissionais pudessem se dedicar a esses temas, cujas soluções seguramente promoveriam o desenvolvimento do país.
* A apresentação dos problemas não deveria ser "macro" e, sim, mais detalhada (por exemplo: em lugar de citar "Doença de Chagas", poderiam ser utilizados subtítulos que permitissem a biólogos, médicos, químicos, analistas de sistemas, educadores participarem do trabalho, cada um em seu campo de atuação).
* Se o Ministério de Ciência e Tecnologia e o Ministério da Educação distribuíssem sugestão de tópicos colhidos junto aos ministérios e secretarias do Governo Federal (por exemplo, via e-mail, a cada seis meses) e relacionados com as suas necessidades, professores e pesquisadores poderiam dirigir seus trabalhos para essas áreas. Competiria a cada grupo a seleção do tema a ser utilizado, inclusive para trabalhos de teses de estudantes de pós-graduação.
* Por sua vez, programas do CNPq, Finep e outras agências poderiam dirigir a atenção para esses mesmos tópicos. As teses de mestrado e doutoramento passariam a ser melhor utilizadas no sentido de encaminhar soluções para o país, em lugar de servir a uma simples publicação (em geral, no exterior).
Urubus e corvos
Na campanha eleitoral de Eisenhower, o jornalista Carlos Lacerda saiu do Rio com destino a Washington, enviado pelo "Correio da Manhã". Parou em Belém e ficou um mês sem dar notícias. Depois, soube-se que tinha ficado por lá, perdidamente apaixonado por uma prima.
Em uma das campanhas presidenciais brasileiras, o maior homem da oposição, sumiu por boa temporada, imerso em paixão pela atriz Maria Fernanda, filha de Cecília Meirelles.
Tinha, é verdade, uma vida sexual controvertida. Mas, ao pretender explorar esses aspectos em um livro, e sustentar que não havia o elemento feminino no universo de Lacerda, além de mentir, João Pinheiro Neto -que notabilizou-se apenas recentemente por trazer à tona os amores de JK- demonstra que a atração por carniça não é prerrogativa dos corvos. É também dos urubus.

E-mail: lnassif@uol.com.br

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