São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 1997
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Curtas nacionais contam histórias de amor

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O cinema de curta-metragem brasileiro cresceu em quantidade e qualidade nos últimos dez anos, mas pouca gente viu.
Num contexto de absoluto desprezo dos exibidores pelo bom curta nacional, a programação de "Curtas Histórias de Amor", a partir de hoje no Espaço Unibanco, merece ser festejada.
É uma reunião de cinco dos mais interessantes representantes da safra 97 no formato, todos tratando, como o título da coletânea sugere, de relações amorosas.
O mais premiado é a comédia carioca de costumes "Decisão", de Leila Hipólito, que desenvolve com habilidade uma idéia simples: o dilema de um jovem (o ótimo Murilo Benício), cindido entre a paixão pelo Flamengo e o amor pela namorada que gosta de balé (Letícia Sabatela).
No mesmo dia em que Flamengo e Vasco decidem a final do campeonato brasileiro, o rapaz resolve ir ao Teatro Municipal assistir a um espetáculo de dança, na tentativa de reconquistar a garota. Mas seu coração está no Maracanã.
Mais complexos e ousados são o também carioca "Amar", de Carlos Gregório, e o gaúcho "O Pulso", de José Pedro Goulart (leia crítica abaixo).
Literatura e teatro
Os dois filmes que completam o programa -"Dedicatórias", de Eduardo Vaisman, e "Dois na Chuva", de Miguel Przewodowski- também são cariocas, refletindo o apoio decisivo que a distribuidora Riofilme deu aos curtas no ano que passou.
O primeiro narra a história de uma jovem viúva (Zezé Polessa) que coleciona livros com longas dedicatórias. Ela é cortejada pelo dono do sebo onde compra seus livros (Carlos Gregório) e pelo dono do bar onde trabalha (Elias Andreato). Os dois tentam fazê-la deixar os livros e a memória do marido para reentrar na vida.
Se se aceita a premissa um tanto boba -a mania da mulher por dedicatórias-, o roteiro é bem construído. Há algo de teatral, entretanto, na cenografia e na "mise-en-scène". Apesar da filmagem em locação, tudo se passa num Rio de Janeiro irreal e provinciano -o que até casa bem com o tom romântico e démodé do argumento.
"Dois na Chuva" é ainda mais teatral, a começar pela atividade da personagem principal, uma atriz (Ana Beatriz Nogueira, também autora do argumento), continuando por suas sessões de análise e pela relação amorosa que esboça com um jovem sem-teto (Marcelo Serrado).
Assim como "Decisão" e "Dedicatórias", "Dois na Chuva" é um filme "pra cima", com um final feliz e conciliador que redime o sofrimento de seus personagens.
Só que, aqui, opera-se um processo oposto ao de "Dedicatórias". Se neste último trata-se de uma mulher que se liberta da ilusão romântica, em "Dois na Chuva" a vitória final é de um romantismo não muito distante do das telenovelas, aquele que supera as barreiras de classe e cultura.

Filme: Curtas Histórias de Amor
Produção: Brasil, 1997
Direção: Carlos Gregório, José Pedro Goulart, Leila Hipólito, Miguel Przewodowski, Eduardo Vaisman
Com: Murilo Benício, Leticia Sabatela, Carlos Gregório, Zezé Polessa, Ana Beatriz Nogueira, Leticia Spiller, Luiz Maçãs
Quando: a partir de hoje, no Espaço Unibanco de Cinema 4

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