São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 1997
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Promoção de acusados de abuso é vetada

LÉO GERCHMANN
DE BUENOS AIRES

O governo argentino retirou da lista de promoções da Marinha os nomes de quatro homens acusados de terem participado da repressão promovida pelo último regime militar no país (1976-1983).
Pela primeira vez, as Forças Armadas pediram ao governo que averiguasse a presença de envolvidos na ditadura entre os candidatos a promoção. É um modo de evitar polêmica com grupos pró-direitos humanos e famílias de vítimas do regime.
Em solicitação ocorrida no último dia 17 de novembro, o Exército requisitou a análise à então subsecretária de Direitos Humanos, Alicia Pierini, que impediu as promoções na Marinha.
Em resposta ao pedido dos militares, a subsecretária disse que as Forças Armadas têm os nomes de todos os envolvidos na "guerra suja" e não devem indicar a existência de apenas alguns, encobrindo os demais.
"A Esma (Escola de Mecânica da Armada) foi uma entidade criminal, responsável pela morte de 4.400 pessoas. Os nomes que apareceram são os dos militares que não conseguiram se ocultar. A questão não é saber se há bons ou maus. Todos os que trabalhavam lá tiveram atuação nos crimes", disse à Folha uma fonte da Subsecretaria de Direitos Humanos.
Pierini deixou o posto para assumir uma cadeira na Câmara de Deputados pelo PJ (Partido Justicilista, peronista, no governo).
Os militares vetados são Néstor Omar Savio, Guillermo Oscar Iglesias, Carmelo Spatoco e Carlos Guillermo Suárez Mason. O pai de Mason, Carlos Mason, foi condenado por violação de direitos humanos e indultado em 1990.
Antecedentes
Nos últimos anos, foram comuns os escândalos resultantes da inclusão de ex-repressores entre os promovidos no Exército, na Marinha e na Aeronáutica.
Os casos mais famosos foram as promoções de Alfredo Astiz, Antonio Rolón e Juan Pernías, reconhecidos como representantes ativos da Esma na repressão.
A Esma é famosa pela sua atuação. Segundo o ex-capitão Adolfo Scilingo, 150 oficiais da Marinha se envolveram na repressão, dopando presos políticos para depois jogá-los ao mar de aviões.

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