São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 1997
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Em atmosfera nervosa, Edmundo não resiste

ALBERTO HELENA JR.

Quando a bola começou a rolar, ficou estabelecido que ali estavam dois campeões se enfrentando. O Palmeiras precisava atacar, atacou. O Vasco precisava defender, defendeu. Isso tudo sob uma atmosfera eletrizada, tensa, mas mais leve do que densa.
E Edmundo? Marcadíssimo por Cléber, resistindo ao instinto de escorpião, busca daqui, dali, e só consegue mesmo é um disparo de falta, quase fatal. Mas, claro, no segundo tempo, não resiste: leva um amarelo e acaba expulso.
Logo, não resta nenhuma alternativa ao Vasco senão fechar-se lá atrás e apostar na incapacidade desse Palmeiras furar uma retranca como a que ele mesmo se habituou a montar.
Resumindo: se o negócio é o tal futebol de resultados, o feitiço virou contra o feiticeiro.
*
Da mesma forma que seriam enganosos uns 4 a 0 para o Brasil sobre a Austrália, caso tivéssemos aproveitado todas as chances desperdiçadas, esse 0 a 0 não refletiu a realidade do jogo de ontem, em Riad.
Explico: o domínio brasileiro foi tão absoluto como eficiente acabou sendo a retranca australiana; contudo, faltou-nos, mais do que sorte, aquela centelha do improviso, que é nosso estigma e ao mesmo tempo salvação.
Faltou-nos, enfim, Romário e Denílson em tempo integral. Pois são eles, juntamente com Ronaldinho (a ausência do sorriso de menino já delata seu atual estado de espírito), os que compensam todas as nossas deficiências táticas.
A principal: de tão canhotos, ficamos canhestros. E a experiência com Rivaldo como o armador mais próximo dos atacantes, o número 1 ou número 10, como queiram, foi um desastre.
O desastre que aponta para a única solução, deixada lá atrás da ponte queimada pelo próprio Zagallo: Giovanni.
*
Num falei? Já por conta da lei Pelé, nossos iluminados cartolas começam a torrar o patrimônio. É o caso desse insólito campeonato brasileiro sem os paulistas, que viceja na cabeça de Kleber Leite como fuga aos prejuízos certos com que o Caixa D'Água ameaça o futebol carioca.
Claro que esse torneio imaginado por Kleber e Cia. será muito mais interessante e rentável do que os já esgotados estaduais, principalmente num ano de Copa do Mundo.
Mas, em vez de preservarem o verdadeiro Campeonato Brasileiro, que já poderá ser montado sobre as novas estruturas do nosso futebol, precipitam-se numa solução estapafúrdia, imediatista e equivocada. Sobretudo, porque toma como exemplo a fórmula de disputa do Campeonato Paulista, com um longo período destinado a jogos classificatórios, o veneno mortal do futebol brasileiro.
Melhor seria aproveitarem a brecha pra criar torneios regionais (RS, PR e SC; RJ, MG, ES e GO etc.), com decisões rápidas e múltiplas, servindo, estes sim, de classificatórios para o grande Campeonato Brasileiro a ser disputado depois da Copa.
Isso, porém, é exigir demais dos nossos cartolas.

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