São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 1997
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Xuxa, Ötzi e a nova família

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - O corpo foi encontrado em 91, nos Alpes de Ötztal, divisa entre Áustria e Itália. Estava embutido em uma geleira. Arqueólogos concluíram que a morte ocorrera havia mais de 5.000 anos.
Houve polêmica em torno da sexualidade do Homem do Gelo, apelidado de Ötzi. Seu saco escrotal era visível. Mas seu pênis, nem tanto. Castrado? Devorado por um animal? Não. Relatório de 93 revelou: sua genitália fora encolhida pelo frio.
Uma revista gay de Viena, "Lambda Nachrichten", noticiou depois que havia sinais de sêmem no reto de Ötzi. Sêmem preservado graças ao gelo. A história ganhou o mundo. E o falatório transformou o Homem do Gelo em homossexual.
Uma fantasia. A região anal do corpo não pôde ser examinada. Estava destruída.
Nem a morte livra o ser humano da maledicência de outro ser humano, eis o que se deseja realçar. Nada mobiliza mais as pessoas do que o cotidiano sexual de outras pessoas. A intimidade alheia ainda é o grande acontecimento.
Veja o caso de Xuxa. Resolveu ter um filho. Há muito se sabe que dá de ombros para o casamento. Buscava o espermatozóide, não o marido. Acabou engravidando do namorado Luciano Szafir. Houve horror, estupefação.
A mesma sociedade que exige o casamento de Xuxa se encanta com o divórcio. Entre 90 e 94, o número de separações aumentou 22% no Brasil. No mesmo período, houve uma queda de 24% na quantidade de matrimônios. São dados do IBGE.
Xuxa não é senão reflexo desta sociedade em mutação. A família muda de cara. O próprio conceito de casal evolui, incorporando pares de gays e lésbicas.
A nova família tem a vantagem de ser mais verdadeira, menos hipócrita. Emancipadas, as mulheres apitam mais. Quanto ao homem, ou molda o seu comportamento aos novos tempos, ou logo o fálus não será senão objeto de estudos pré-históricos.

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