São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 1997
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Mulher sabe como tomar droga anti-HIV

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

A maioria das mulheres doentes de Aids que tomam remédios anti-HIV tem bastante informação sobre o tratamento a que está sendo submetida. Mas, em muitos casos, isso não evita que elas tomem os remédios incorretamente.
É o que revela levantamento inédito que analisou o comportamento de 76 pacientes da cidade de São Paulo. O resultado foi considerado surpreendente pelo órgão que realizou a pesquisa (CRT/Aids) por causa do perfil das pacientes: são mulheres com baixa renda e baixa escolaridade (maioria não completou o 1º grau).
Apenas três não entendem. As outras 20 desviaram a resposta e falaram das dificuldades de tomar os remédios.
Resultado semelhante é obtido sobre o conhecimento do que é carga viral e CD4. 56% sabem que a carga é a quantidade de vírus HIV no sangue e 41% entendem que os CD4 são células de defesa.
A grande maioria também conseguiu responder a questão "quando deve começar a tomar o coquetel?" As respostas foram: quando o HIV é diagnosticado (20 mulheres), quando a contagem de CD4 está baixa (17), quando surgem os sintomas (14), critério médico (6), quando a carga está alta e a contagem de CD4, baixa (3), quando o estado é terminal (1).
O resto deu outras respostas (9) e apenas seis delas não souberam responder.
Problemas
Apesar do conhecimento considerado "elevado", muitas pacientes tomaram os remédios de forma errada. Das 48 doentes que recebem AZT, 19 tomaram errado, número maior do que as que tomaram certo (16) e das que trocaram ou pararam de tomar (13).
O problema também ocorreu com outro remédio inibidor da transcriptase reversa, o 3TC. De 43 doentes que tomaram a droga, 13 cometeram erros.
Os motivos mais comuns para errar foram: 1) esquecimento; 2) intolerância (quando a droga causa náuseas, por exemplo); 3) por não poder tomar em determinada situação; 4) por estar sem ânimo.
Para Naila Janilde Seabra Santos, diretora da Vigilância Epidemiológica do CRT/Aids da Secretaria do Estado da Saúde e uma das coordenadoras da pesquisa, o levantamento mostra que a falta de aderência ao tratamento não é resultado da ignorância, mas dos esquemas rígidos dos remédios.
"A questão é fazer com que as fórmulas fiquem menos complicadas e que os remédios possam ser tomados em horários mais flexíveis", afirma Naila.

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