São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Nova moda é ficar histérico com fato isolado

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Alô, José Afonso da Silva, secretário da Segurança do Estado! Pelo jeito, de "fato isolado" em "fato isolado", São Paulo ainda vai acabar sendo eleita o Zaire da América do Sul.
O secretário gosta de chamar de "fato isolado" todo e qualquer assalto que ocorra no espaço entre o centro e o perímetro das marginais.
A imprensa, por sua vez, encontrou novas maneiras para definir o sentimento da população diante da escalada da violência. Para ela, trata-se de "histeria da classe média", de "conflito de classes" ou coisa que o valha.
É para ficar fulo da vida ou não?, ó leitor que gostaria de ver o espírito do Rudolph Giuliani, prefeito de Nova York, baixar no corpanzil do governador Covas, nem que fosse em uma sessão de mesa branca?
Se você faz parte da classe média, já foi assaltado e conhece alguém que também foi, levante a mão.
Vejam só, caro secretário José Afonso e nobres colegas da imprensa! Vejam só quantos "fatos isolados", quanta gente "histérica" por estar sentindo na pele o mesmo tipo de insegurança que os habitantes da periferia conhecem tão bem.
Pois eu digo: "histeria" uma ova, demagogos! E "fato isolado", que eu saiba, é o delegado Tuminha mobilizar toda a polícia da cidade para recuperar seu Golf roubado!
Sou daquele tipo de paulistana que costumava andar pela cidade a todas as horas do dia e da noite, sem nunca ter sofrido nenhum tipo de violência. Nos últimos dois anos, fui vítima de três "fatos isolados".
Em um deles, cheguei a ficar seis horas na mão dos bandidos, por sinal, três garotos da classe média. E, como típica vítima de "fato isolado", acabei ficando "histérica".
Hoje, evito sair de casa, o que me valeu entre os amigos apelidos como "capitão Caverna" e "presidente da Fundação Viva Casulo".
Mas, como é que se pode evitar a "histeria", quando se ouvem declarações como a do delegado Godofredo Bittencourt Filho, diretor da Divisão de Crimes Contra o Patrimônio do Depatri, de que a divulgação na imprensa da existência da gangue da batida de carro, que assalta mulheres desacompanhadas, "serviu para intimidá-los. Depois disso não houve mais casos"?
Ora, em vez de vir com conversa mole, ele que trate de prender os vagabundos!

Texto Anterior: Gangue da batida se multiplica e se espalha
Próximo Texto: Cheque de vítima paga conta no Guarujá
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.