São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 1997
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Planalto revê estratégia

SHIRLEY EMERICK; MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Furou a estratégia do governo de insistir publicamente em que não se meteria nas negociações entre metalúrgicos e Volks. O governo tinha duas intenções: não se desgastar politicamente com a proposta de redução dos salários e fazer com que patrões e trabalhadores encabeçassem a mudança da legislação trabalhista.
A estratégia furou por dois motivos: porque os partidos de oposição começaram a usar a questão do desemprego como bandeira e porque o presidente Fernando Henrique tem o compromisso eleitoral, com os aliados, de frear o ritmo de aumento do desemprego até a reta final das eleições de 98.
Depois que sindicatos de trabalhadores e empresários começaram a criticar o desaquecimento da economia, o governo foi forçado a reagir com algo mais do que a prometida queda dos juros. Exemplo disso é o anúncio da ampliação das parcelas do seguro-desemprego.
O temor do governo é que a oposição use qualquer medida de estímulo à criação de empregos como uma resposta a sua demanda, a "politização".
Para a campanha de 98, a intenção do presidente é enfrentar a eleição de outubro com uma taxa mensal do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) menor que 6%.
O número é muito maior do que a taxa média do ano em que FHC disputou a última eleição. Em 1994, o IBGE registrou 3,37% da população economicamente ativa à procura de emprego nas seis principais regiões metropolitanas no país.
A tendência desde então tem sido de alta "moderada" no índice oficial. Em 1995, a taxa de desemprego subiu para 4,64%. No ano passado, mais um salto: a taxa foi para 5,43%. Neste ano, a taxa deve fechar próxima de 6%.
"A expectativa é de um quadro semelhante ao que está aí hoje", relatou o presidente do PSDB (partido de FHC), senador Teotonio Vilela Filho (AL), depois de ouvir do presidente uma análise do cenário eleitoral. "A eleição não vai ser disputada num cenário dramático", previu.
Mas o governo ainda não tem uma previsão segura do comportamento das taxas de desemprego no ano que vem, embora já conte com um aumento do índice no primeiro trimestre do ano. Apenas estão descartados índices menores do que os registrados atualmente.
Ainda é difícil para o governo medir o impacto da alta dos juros e quanto tempo vai demorar para o mercado de trabalho reagir depois que os juros caírem.
O assessor especial do Ministério do Trabalho Jorge Jatobá desautoriza cálculos que apontam a possibilidade de crescimento de até três pontos percentuais na taxa em 1998.
"São estimativas rudes, sem fundamentos", disse. "A gente espera que a taxa cresça a partir de janeiro, mas é difícil saber qual será o impacto da redução do nível da atividade econômica", completou.
O efeito da alta das taxas de juros só se tornará mais evidente no índice de desemprego a partir de fevereiro ou março.
O comportamento da taxa vai depender não apenas do ritmo da queda dos juros e de eventuais medidas para "flexibilizar" os contratos de trabalho, mas também da conjuntura internacional.
(SHIRLEY EMERICK e MARTA SALOMON)

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