São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 1997
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Torneio põe pulgas na orelha de Zagallo

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Se Zagallo está usando esse torneio das Arábias para fazer as derradeiras observações, deve ter acrescentado algumas pulguinhas a mais atrás da orelha.
Por exemplo: se havia alguma dúvida sobre a dupla de atacantes -quem seria o parceiro ideal para Ronaldinho-, depois da vitória de ontem por 3 a 2 sobre o México, quando Ronaldinho cedeu seu lugar, ao lado de Romário, para Bebeto, pode ter caído na própria cilada.
A impressão que ficou é a de que Ronaldinho perdeu a vaga. Mas a verdade é que Ronaldinho passa por uma daquelas fases típicas de todo artilheiro no estio, a que Romário, Bebeto, Edmundo e quem mais queiram já passou e ainda passarão. Isso passa logo.
O diabo é que nem a dupla Bebeto-Romário engrenou, apesar de termos feito os dois gols suplementares quando ela estava em campo, já no segundo tempo.
Mesmo porque o problema maior continua sendo a armação pela direita. Juninho, por ali, deu um pouco mais de equilíbrio no setor, só isso. O que é pouco. Enfim, vamos em frente.
*
Esse caso Edmundo está se transformando num jogo paralelo à decisão, uma disputa entre a ética e a estética.
Quem defende sua exclusão da finalíssima apela para a ética: é um absurdo alguém que feriu a lei por duas vezes consecutivas seja por ela beneficiado.
Quem propugna por sua presença num Maracanã lotado e festivo tira da cartola a tese de que um craque desse nível, com tal performance no campeonato, não pode ficar de fora de tão nobre jogo, sob pena de se estar punindo não só o próprio futebol como, sobretudo, o torcedor. Ora, ambos os argumentos são falaciosos.
Não há neste futebol quem possa atirar a primeira pedra, em se tratando de ética.
Todos os grandes já foram, de uma forma ou de outra, num determinado instante, beneficiados pelas mutretas instaladas há muito tempo nos chips das nossas leis.
Assim como a condição de craque jamais deveria servir de habeas-corpus para ninguém, muito menos para um recalcitrante como Edmundo, useiro e vezeiro em indisciplinas dentro das quatro linhas.
Além do mais, falta perguntar ao próprio objeto da discussão, olhos na alma, se ele, Edmundo, quer mesmo participar dessa finalíssima.
Tenho cá comigo a suspeita de que, no fundo, no fundo, não quer. Se quisesse, teria se livrado do terceiro cartão amarelo na fase anterior, quando o Vasco, já classificado por antecipação, lhe ofereceu tal oportunidade.
Quem garante que, por fobias desconhecidas, Edmundo não tenha levado a situação a esse impasse que o livra da responsabilidade de uma decisão? Aqui, saio de cena, levando a ética e a estética comigo.
E deixo em campo dr. Freud e seus companheiros.
*
Se me fosse dado fornecer um conselho ao técnico Luxemburgo, com todo respeito, lhe diria: fecha a matraca, cara! Quanto mais Luxemburgo discursa aos microfones, procurando salvar sua imagem pública, mais se enrola.

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