São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 1997
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MAIS INCERTEZAS NA CORÉIA

No início da noite de ontem, horário brasileiro, parecia confirmada a vitória do candidato oposicionista Kim Dae Jung nas eleições coreanas.
À margem das qualidades e defeitos do presidente eleito, é forçoso reconhecer que o resultado acrescenta incertezas a um panorama já nebuloso, para dizer o mínimo. Primeiro porque Jung era o mais à esquerda entre os vários candidatos, com claros vínculos com o combativo movimento sindical coreano. O aperto fiscal e monetário que o receituário do FMI (Fundo Monetário Internacional) impôs ao país terá como consequência inescapável um aumento do desemprego, o que, por sua vez, levará a igualmente inevitáveis reações defensivas do sindicalismo.
Com isso, o futuro presidente terá que escolher entre responder aos seus aliados mais antigos ou seguir uma política que fere diretamente os interesses do movimento sindical.
Em qualquer caso, não será uma escolha isenta de riscos.
Mas não é tudo. Jung aceitou muito a contragosto o acordo com o Fundo. É razoável supor que, no poder, o mínimo que fará será aplicar com má vontade o receituário do FMI, o que prometeu há alguns dias após ter insinuado durante a campanha que iria propor uma revisão dos seus termos.
Pode-se até discutir a fórmula do FMI para a Coréia, o que, aliás, vem sendo feito por um número crescente de especialistas. Mas, méritos e defeitos da receita à parte, o fato é que dúvidas a respeito da firmeza do governo em implementá-la não contribuirão para tranquilizar mercados em estado de franca ebulição.
Por fim, a vitória de Jung se deu por margem apertada (pouco mais de 40% dos votos). É pouco para lhe conferir um claro mandato para enfrentar as cruciais escolhas que o novo governo tem pela frente.
Tudo somado, a eleição introduziu elementos de incerteza que dizem diretamente respeito ao Brasil. Afinal, só a normalização da situação asiática permitirá ao governo reduzir os juros de forma sólida.

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