São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 1997
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De terrorismo e mesquinharia

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Se eu fosse dono da Volkswagen, demitiria todo o departamento de matemática da companhia. E por justa causa: as contas sobre a necessidade de demissões simplesmente não fecham.
Vejamos: a empresa ameaçou os empregados com 10 mil demissões, a menos que aceitassem uma redução de salário, acompanhada, menos mal, de redução da jornada em percentual idêntico.
Agora, aceita um programa de demissões voluntárias e diz que, com 3.150 cabeças degoladas, basta para pôr ordem na casa.
Que diabo de matemática é essa em que, antes, era preciso demitir 10 mil e, agora, basta com 3.150?
Difícil escolher outra palavra que não terrorismo para designar os primeiros números usados pela Volks nessa história.
No mesmo capítulo emprego/desemprego, é obrigatório fazer o registro de que a ampliação do seguro-desemprego, anunciada terça-feira pelo governo, está muito longe de ser uma iniciativa caridosa das autoridades.
Ao contrário: o governo apenas cedeu aos pedidos das centrais sindicais (CUT e Força Sindical). Mais: a proposta do governo, inicialmente, era a de ampliar o seguro-desemprego em parcelas a serem pagas nos segundo e terceiro trimestres de 1998.
Basta fazer as contas: o terceiro trimestre, até que haja alguma reforma também de calendário, termina em setembro, três exatos dias antes das eleições presidenciais de 3 de outubro.
O movimento sindical é que se empenhou para que a ampliação ocorresse já no início do próximo ano, o que tem toda a lógica: é no primeiro trimestre que deve pesar mais sobre o emprego a brutal elevação dos juros que o governo se viu obrigado a fazer para evitar o contágio asiático.
O governo só concordou depois de obter dos sindicalistas o aval para assumir a paternidade do benefício.
Que tal mesquinharia para designar esse tipo de atitude?

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