São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 1997
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Dois pesos, duas medidas

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Se permitiu que o CMN alterasse ontem as regras do arrocho fiscal para favorecer Maluf e Pitta, FHC está na obrigação agora de alterá-las também para favorecer os pais e mães de família que não querem nada de graça. Só querem emprego.
Os índices de desemprego na Grande São Paulo já foram recorde em novembro, tradicional época de contratações no comércio. Imaginem como vão estar no primeiro trimestre de 98. O único refresco até lá, se houver, será em dezembro.
O próprio ministro do Trabalho, Paulo Paiva, admitiu ontem que janeiro, fevereiro e março são épocas de desemprego. O Natal já era, o 13º salário acabou, os gastadores contumazes viajam para o exterior. Ninguém vende. Logo, não contrata. Ao contrário, demite. E a recuperação só começa lá por abril.
O que o ministro não admite é que a taxa de 16,6% apurada pela Fundação Seade e Dieese seja alarmante. É equivalente a 1,436 milhão de desempregados, mas Paiva adverte que não há novidade em relação aos meses anteriores, caracterizando estabilização.
Alega o ministro que a taxa total de setembro foi 16,3%; a de outubro, 16,5%; a de novembro, 16,6%. A taxa de desemprego aberto manteve-se estável em 10,5% nesses três meses.
Tudo isso é verdade, mas até o sempre cauteloso porta-voz Sérgio Amaral admitiu ontem: "Os índices estão praticamente estabilizados. Num patamar muito alto, é verdade, mas estabilizados".
O problema está justamente nesse "patamar muito alto", que remete para uma cobrança bastante justa do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho.
Ele tem elogiado a posição do governo, de não interferir nas negociações entre montadoras e trabalhadores -que, de tão duras, envolvem até a redução de salários. Mas no início da semana lembrou que o governo não pode simplesmente cruzar os braços.
Afinal, o governo dobrou os juros e aumentou o IPI dos carros, dois fortes fatores de desemprego. E só ele pode voltar atrás. Se pôde alterar o pacote 51 para Maluf e Pitta, por que não para quem vive apenas de salário?

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