São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 1997
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Argentina tem plano para real desvalorizado

LÉO GERCHMANN
DE BUENOS AIRES

A Argentina tem um "plano secreto" para reagir a uma eventual desvalorização monetária brasileira. O país, que destina 30% das suas exportações ao Brasil, teme a perda de valor do real como o fato que mais pode prejudicá-lo.
Os analistas econômicos argentinos são unânimes em dizer que o pacote econômico brasileiro lançado em outubro e novembro passados, apesar de gerar retraimento no mercado (alta dos juros), foi uma solução menos prejudicial ao país do que seria uma eventual desvalorização do real.
A UIA (União Industrial Argentina) tem um relatório que estima, para os próximos meses, uma desvalorização de 15% do real. Com isso, segundo a entidade, as exportações argentinas se tornariam 7,6% mais caras.
O "plano secreto" para uma eventual desvalorização, que não vai ser publicado nos jornais, foi revelado pelo vice-ministro da Economia, Carlos Rodríguez, em entrevista ao diário argentino especializado em finanças "El Cronista".
A Folha tentou ouvir ontem o vice-ministro (primeiro nome da pasta depois do ministro Roque Fernández), mas ele não quis dar entrevistas sobre o assunto.
"Se ocorre uma desvalorização da moeda brasileira, pode haver efeitos de curtíssimo prazo, de três, quatro ou cinco dias, quando se discutirão seus efeitos, mas que não vão se fazer públicos. São medidas de curto prazo entre os países do Mercosul (bloco econômico integrado pelo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), em caso de surgir uma desvalorização brutal de paridades", afirmou Rodríguez.
Quanto à retração do mercado brasileiro, Rodríguez afirmou que "a única solução é vender menos para o Brasil". Ou seja, segundo ele, não há solução.
Aeroportos
Entre as medidas para enfrentar a crise, o governo argentino recebeu o aval da Corte Suprema de Justiça para privatizar os aeroportos argentinos por meio de decreto.
Com isso, deverão se iniciar os processos de venda do aeroporto de Ezeiza (em Buenos Aires, dedicado a vôos internacionais), do Aeroparque (também em Buenos Aires, mas para vôos domésticos) e outros 31 aeroportos do país.
A oposição alega que a privatização por decreto é autoritária. Menem contesta dizendo ter apresentado projetos que ficaram esperando para ser votados.
A privatização dos aeroportos já tem até cronograma. No dia 8 de janeiro, os quatro grupos habilitados terão as propostas divulgadas, havendo a definição. O preço mínimo pela concessão dos aeroportos é de US$ 40 milhões anuais.
Empregos temporários
Índices referentes ao desemprego na Argentina mostram que 80% dos novos postos (484.455, ou 3,7% da população ativa) tiveram origem em planos oficiais colocados em prática antes das eleições, com empregos de dois ou seis meses.
Os índices de desemprego em outubro mostrara, na semana passada, que há queda de 2,4 pontos percentuais em relação a maio. A estimativa é que, sem esses contratos temporários, o desemprego argentino, na verdade, estaria em mais de 17%. Ou seja, mais do que os 16,1% registrados na medição de maio.
Os empregos temporários representam ajuda de custo entre US$ 100 e US$ 350. Em dezembro, 130 mil desses empregos transitórios chegarão ao fim. A medição semestral é realizada pelo Indec (Instituto Nacional de Estatísticas e Sensos).

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