São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 1997
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Bolsa e won desabam na Coréia após a vitória de Kim Dae Jung

OSCAR PILAGALLO
ENVIADO ESPECIAL A SEUL

A vitória da oposição na eleição presidencial de quinta-feira na Coréia do Sul provocou forte queda dos mercados financeiros ontem em Seul, a capital.
A Bolsa de Valores da Coréia, que vinha se recuperando durante a semana, levou tombo de mais de 5% e o principal índice voltou a ficar abaixo da marca de 400 pontos.
No mercado de câmbio, o won, a moeda nacional, também fechou em baixa de mais de 5%. O dólar fechou cotado a 1.622 wons.
Com o resultado de ontem, a desvalorização cambial do ano está em torno de 50%.
Quanto às ações, perderam mais de 40% nos últimos três meses.
O comportamento do mercado financeiro refletiu também a queda generalizada, deflagrada pelas substanciais perdas na Bolsa de Nova York no dia anterior.
O desempenho de "Wall Street", no entanto, havia sido influenciado pelo impacto da crise asiática nas empresas norte-americanas, o que cria um círculo vicioso.
Tempos difíceis
Ontem, em sua primeira declaração como presidente eleito, Kim Dae Jung, reafirmou que irá observar com rigor os termos do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que no início do mês liderou um pacote de ajuda multilateral de US$ 57 bilhões à Coréia.
A iniciativa teve o objetivo de tentar tranquilizar os investidores internacionais, que estão céticos em relação à sua disposição de adotar medidas impopulares.
Em discurso na Assembléia Nacional, Kim disse aos coreanos que eles devem se preparar para tempos difíceis.
O esforço de Kim não surtiu o efeito desejado. Os mercados ignoraram suas palavras e continuaram a cair após a divulgação do discurso na televisão.
A desconfiança em relação a Kim -um político que fez carreira como crítico do regime militar dos conglomerados que dominam o país- aumentou em meados deste mês, quando ele criticou o acordo com o FMI.
Kim afirmou, na ocasião, que o acordo é de interesse dos Estados Unidos e do Japão, cujas empresas comprariam ações baratas na Coréia após a recessão prescrita pelo FMI.
O então candidato havia afirmado que, se fosse eleito, iria rever os termos do acordo.
Como era o candidato favorito, suas declarações derrubaram ainda mais os mercados.
Mais tarde, quando ele se deu conta do estrago, recuou, assinando compromisso de seguir as determinações do Fundo.
Moratória
A falta de dólares para honrar compromissos internacionais foi amenizada ontem pela liberação da segunda parcela, de US$ 3,5 bilhões, do empréstimo do FMI.
O fato não chegou a influenciar o mercado porque já era aguardado.
A possibilidade de "default" (moratória) da dívida externa de curto prazo ainda neste ano não está descartada.
Nos próximos dez dias vencem compromissos de US$ 20 bilhões que os conglomerados coreanos só conseguirão pagar se receberem mais empréstimos de bancos estrangeiros e governos.
A dívida dos conglomerados, chamados "chaebols", é até quatro vezes superior ao capital, quando a alavancagem considerada dentro do limite de risco é equivalente ao capital.
Resolver essa crise, a mais profunda desde a Guerra da Coréia no início dos anos 50, é o maior desafio de Kim, que tomará posse só em 25 de fevereiro.
Japão
O Japão concedeu ontem à Coréia do Sul um crédito-ponte de US$ 1,3 bilhão para ajudar o país a honrar compromissos a curto prazo.
O anúncio foi feito por meio de comunicado divulgado ontem pelo Banco do Japão (banco central).
O ministro das Finanças japonês, Hiroshi Mitsuzuka, afirmou que o Japão está disposto a continuar ajudando a Coréia do Sul, caso o país solicite.
O Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD) também aprovou ontem um crédito de US$ 4,3 bilhões para a Coréia do Sul e para a Tailândia.
O governo sul-coreano receberá US$ 4 bilhões. Os US$ 300 milhões serão concedidos à Tailândia.
Segundo um comunicado do banco, o crédito à Coréia do Sul "é a rápida resposta à crise excepcional e precipitada e ajudará a estabilizar o programa de reformas".
A instituição propôs a criação de uma agência financeira independente para supervisionar e apoiar o Banco da Coréia (banco central).

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