São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 1997
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Irã estuda rever sentença contra Rushdie

ROBERT FISK
DO "THE INDEPENDENT", EM LONDRES

O governo iraniano espera reiniciar as negociações sobre a "fatwa" -sentença de morte- contra o escritor britânico Salman Rushdie agora que os embaixadores da União Européia voltaram a Teerã, afirmou o novo ministro de Orientação Islâmica iraniano, Seyyed Ataollah Mohajerani, ao "The Independent" ontem.
Rushdie, porém, se disse cético sobre isso (leia texto abaixo).
Diplomatas ocidentais em Teerã querem uma carta dos iranianos que efetivamente cancele a "fatwa" decretada pelo aiatolá Khomeini, já morto, contra o escritor.
Os iranianos estão preparados para assinar uma carta que afirme que não vão matar Rushdie -mas não "derrubarão" oficialmente um édito religioso.
"A 'fatwa' de uma autoridade religiosa é algo que um governo não pode cancelar -e o governo do Irã não pode ignorá-la ou cancelá-la. O livro ('Os Versos Satânicos') ainda está lá e as pessoas o leram. Rushdie ainda está vivo, mas o imã Khomeini morreu -assim, não é possível cancelar a 'fatwa'", disse Mohajerani.
O ministro é uma das figuras mais liberais no novo governo do presidente Mohammad Khatami, eleito em maio deste ano.
Quando depôs diante do Parlamento iraniano, em 20 de agosto, submetendo a aprovação de seu nome ao cargo que agora ocupa, Mohajerani não quis responder sobre sua posição pessoal a respeito da condenação de Rushdie.
Frente a frente
Questionado por um deputado se mataria o escritor britânico caso se visse frente a frente com ele, o agora ministro afirmou que não se manifestaria sobre a questão.
Mais tarde, porém, na mesma sessão, Mohajerani afirmou que "todos que aceitaram a República Islâmica e sua Constituição devem se submeter à tolerância. Eu condeno a destruição de livrarias, o espancamento de professores universitários e os ataques contra editoras de revistas e jornais".
"Podemos ser contra as idéias das pessoas, mas isso não significa que temos o direito de insultá-las. Se um intelectual expressa suas teorias, devemos criticá-lo de forma respeitosa -e assim enriqueceremos nossa sociedade", disse.
'Beco apertado'
"É uma grande tragédia quando um país que criou tanta civilização e cultura usa linguagem insultuosa (contra escritores)."
E acrescentou: "O Islã não é como um beco apertado e escuro em que o homem constantemente bate a cabeça contra a parede e não pode sobreviver. O Islã é como uma rodovia, uma estrada cheia de crescimento e felicidade pela qual um muçulmano caminha ao longo de toda a sua vida".

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