São Paulo, terça-feira, 23 de dezembro de 1997
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Presos são isolados em sala por segurança

DA REPORTAGEM LOCAL

Robson Garcia e Antônio Carvalho dormiram as noites de sábado e domingo numa sala onde ficam investigadores do Depatri.
Um dos motivos é o risco que correm de serem espancados pelos outros presos caso entrem na carceragem do departamento.
Pela "lei" que existe nas cadeias, os presos que estupram suas vítimas acabam sendo violentados por seus colegas de cela.
A dupla de ladrões disse que costumava assaltar três ou quatro vezes por semana e, em cada noite, fazia dois ou três roubos.
Com isso, o número de vítimas pode ser superior a 50. Porém, eles negam ter roubado tanta gente. Leia a seguir os principais trechos da entrevista dada por Carvalho, apontado como líder da quadrilha.
*
Folha - Quantos assaltos vocês praticaram?
Antônio Carvalho - Não me recordo. Deve ter sido de 15 a 20. Não vou ficar contando na mão. A gente não operava há um mês.
Folha - Você tem medo de ir para a carceragem, com risco de ser violentado pelos outros presos?
Carvalho - Não tenho medo de nada. Você acha que quem já fez o que eu fiz tem medo de alguma coisa? Esse negócio que você falou existe nos distritos. Na penitenciária é diferente, há uma doutrina. Pelo que fiquei sabendo, vamos para a Penitenciária do Estado.
Folha - Vocês estupravam suas vítimas?
Carvalho - Não. Eu nunca permitira isso.
Folha - Mas boa parte das vítimas diz que o Robson (Garcia) praticava abusos sexuais.
Carvalho - Se ele fez isso, não foi na minha frente. Eu ia para os caixas e ele ficava com as vítimas no carro.
Folha - Você ameaçava suas vítimas?
Carvalho - Era eu quem dava voz de assalto. Depois eu tentava acalmá-las. No final, eu simulava que estava pegando o endereço e o RG delas e dizia que, se elas denunciassem, eu iria na casa delas.
Folha - Vocês também estão sendo acusados de atirar num homem, que foi assaltado quando estava no carro com a mulher.
Carvalho - Não tenho conhecimento de homem nenhum.
Folha - Sua namorada e o cunhado do Robson tinham envolvimento na gangue?
Folha - Nós não somos uma gangue. Somos uma dupla. Ela (Maria Vitória) não tem nada a ver com isso.
Folha - Por que vocês sempre abordavam as vítimas com uma batida de trânsito?
Carvalho - Abordar num semáforo é mais arriscado.
Folha - Uma das vítimas teve um cheque usado para pagar uma conta no Guarujá. Você esteve lá?
Carvalho - Estive. Fui andar de jet ski e de lancha. Os ricos não fazem isso? Acho que todo mundo tem direito. No restaurante eu perguntei quanto os garçons ganhavam e, como ganhavam pouco, dei o dinheiro para eles e o cheque roubado, para o dono.

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