São Paulo, quarta-feira, 31 de dezembro de 1997
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Demitidos prestam serviço para Cerj

DA SUCURSAL DO RIO

O eletrotécnico Luiz Carlos da Silva, 48, tinha 24 anos como funcionário da Cerj quando deixou a empresa, em fevereiro passado.
Entrou num plano de demissão incentivada, assim como outros colegas, com objetivos comuns: montar uma empresa para trabalhar para a ex-estatal, sobreviver e sustentar a família.
"Em outubro de 96, pouco antes da privatização, um grupo de profissionais da Cerj começou a discutir como seria o mercado de trabalho após a venda da empresa e concluiu que não haveria emprego para todos", diz.
Hoje, ele é presidente da Cooperativa de Trabalho dos Profissionais Técnicos Eletricitários, cujo nome de fantasia é Tecsel Tecnologia em Serviços de Eletricidade.
A empresa foi fundada por ex-funcionários da Cerj, que saíram da empresa com indenizações de cerca de R$ 10 mil, em média, e com idade média acima de 35 anos.
Atualmente, são 90 profissionais (engenheiros, técnicos de nível superior, eletrotécnicos, mecânicos, eletricistas e outros), que têm a vantagem de conhecer bem a Cerj.
"Um profissional de nível superior da nossa empresa ganha em média R$ 3.000", diz ele.
A empresa está instalada em um conjunto de salas em Niterói.
Luiz Carlos da Silva afirma que o fato de ser cooperativado tem algumas desvantagens em relação à situação do trabalhador comum, já que o integrante de cooperativa de trabalho não tem férias remuneradas nem FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), além de outros benefícios com que estava acostumado.
"A maioria do pessoal da Tecsel tinha mais de dez anos na Cerj", disse. "É evidente que, quando você tem esse tempo todo, fica meio engessado na idéia de que é empregado. Quando sai, tem que se reciclar, tem que se olhar como um profissional tentando sobreviver", afirma.
Voltando às aulas
Para reingressar no mercado de trabalho, o auditor Rui de Barros, 44, que foi demitido do Banerj em 16 de julho, após 22 anos de serviço no banco, retornou aos livros escolares. Seu objetivo é voltar a integrar os quadros de uma empresa pública, como fez por mais de duas décadas.
"A gente tem que estudar para se reciclar", diz ele.
Embora tenha convites para se associar a colegas em trabalhos de auditoria, Barros tem estudado para prestar concursos públicos. Tentou o da BR Distribuidora, mas não passou. Agora, se prepara para disputar um lugar no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Barros acha que sua situação não é tão ruim quanto a de alguns colegas também demitidos, já que tem experiência em uma área em que não há muita mão-de-obra.
Mesmo assim, lamenta a demissão, feita porque ele não conseguiria, segundo o Banerj, "atingir determinado nível".
"Não me foi dito que nível era esse", afirma. "O pior é não ter como evitar a demissão."

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