São Paulo, quarta-feira, 31 de dezembro de 1997 |
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Obra disseca segredos do misticismo
CELSO FIORAVANTE
O "hermético" do título, porém, não significa fechado ou de difícil compreensão, mas refere-se à própria alquimia e ao deus grego Hermes, senhor da medicina e mensageiro de todos os deuses. O volume é uma Bíblia sobre o assunto. Em 712 páginas, repassa conhecimentos e mistificações desses sábios, que influenciaram os mais diversos ramos do conhecimento humano, como física, química, filosofia, religião, medicina, matemática e astronomia. O volume conta com 812 ilustrações, explicadas minuciosamente. Elas reproduzem as imagens criadas pela literatura alquimista, sempre muito sugestiva, principalmente pelo uso de alegorias, metáforas, símbolos e jogos de palavras. Os textos -assim como as imagens que eles apresentam- são formados por essa trama infinita de referências e códigos obscuros. A linguagem cifrada e enigmática dos alquimistas tem seus motivos: servia para proteger um conhecimento ancestral ("Prisca Sapientia"), um saber que teria sido revelado por Deus a Adão e a Moisés e agora teria sido repassado a eles. Devido à grande sabedoria que julgavam ter, os alquimistas se autodenominavam filósofos e tratavam a alquimia como arte (chamavam-na "ars"). Esse conhecimento teria sido transmitido por Hermes Trismegisto, figura lendária, patriarca dos alquimistas. Para eles, Trismegisto era uma espécie de Moisés, pois havia transmitido os seus conhecimentos por meio da "Tábua de Esmeralda" ("Tabula Smaragdina"), que data do período entre os séculos 6 e 8 d.C. e que foi divulgada no Ocidente a partir do século 15. Chumbo e ouro Desde que o mundo é mundo (e mesmo antes), ele está envolto em mistérios, sobre os quais alquimistas e místicos se debruçaram. O maior objetivo deles era reconduzir o homem à sua condição paradisíaca original ("Lapis"; fruto da união dos princípios masculino e feminino no enlace cósmico do céu e da Terra). Isso equivaleria à própria transmutação da matéria, geralmente associada à transformação do chumbo em ouro. Em linhas gerais, qualquer organismo enfermo ou imperfeito (homem, animal ou matéria) poderia ser curado ou atingir a plenitude se ultrapassasse as sete etapas planetárias. A primeira seria transpor o anel de Saturno pela morte e putrefação. Na última, ele atingiria a eterna juventude e o conhecimento divino (representados pelo Sol). Entre essas etapas, posicionam-se Júpiter (estanho), Marte (ferro), Vênus (cobre), Mercúrio (mercúrio) e Lua (prata). No início do século 17, os processo alquímicos clássicos entraram em decadência, substituídos pela prática em laboratórios de químicos, como Andreas Libavius, e por alquimistas teosóficos, como os Rosa-Cruz. Em ambos os casos, o patrono era Paracelso (1493-1541), em cujos textos teóricos era possível encontrar receitas práticas para a fabricação de remédios a partir de substâncias minerais e vegetais e também conceitos filosóficos. Dividido em quatro tópicos ("O Macrocosmos", "Opus Magnum", "O Microcosmos" e "Rotação"), "Alquimia & Misticismo" relaciona, em ordem temática e cronológica, uma rica coleção de imagens sugeridas ao longo da história por termos como luz e trevas, árvore filosofal, química vegetal, escada, Trindade e outros. O "Opus Magnum", por exemplo, compila todos os termos referentes à criação do universo. Ele teria surgido a partir de uma "matéria-prima" em que opostos ainda inconciliáveis estariam em conflito, mas que deveriam caminhar para um estado de harmonia perfeita. Nele entram tópicos como a purificação, a queda de Adão, o caos, a noite saturnina e o tormento dos metais. O volume já vendeu cerca de 100 mil exemplares, sendo que 5.000 deles em Portugal, onde foi lançado em novembro. Publicado em 14 idiomas e editado em português do Brasil, apresenta pequenos problemas de tradução, mas que não constituem empecilho a uma leitura com prazer. Livro: Alquimia & Misticismo - O Museu Hermético Autor: Alexander Roob Lançamento: Taschen Quanto: R$ 45 (712 páginas, 812 ilustrações) Texto Anterior: "O Sétimo Selo" e a ficção de cada novo ano Próximo Texto: Réveillon tem novidades e clássicos Índice |
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