São Paulo, quarta-feira, 31 de dezembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Autor satiriza os ideais do continente

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Tim Parks diz que "Cara Massimina" foi escrito apenas "por prazer", muito antes que qualquer um de seus trabalhos tivesse sido aceito por uma editora.
"Massimina" existe então nessa leveza, na ausência de compromissos de seu autor que, ao contrário de seus companheiros de geração, não exige de sua obra o dever de moldar um novo cenário para a produção literária de seu país.
Mas isso não traz como consequência uma escrita barata, esquecível, sem força.
Seu Morris Duckworth, apesar das aparências, falas e situações vividas, é um personagem de uma vilania assustadora e uma crueldade incomum.
Não existe em sua mente algo próximo a uma ética. Ele se movimenta motivado apenas por perdas e ganhos, assumindo que suas razões pessoais, suas mesquinhezas são, de certa maneira, também universais.
Esse é o homem de cinismo exemplar, que Parks nos apresenta na forma de uma piada bem construída, no riso montado na zombaria.
Mas há também o tempo e o lugar. "Cara Massimina" -e mais explicitamente "Europa"- nos fala de um atual estado de ânimo em que tudo soa, e ressoa, um grande fracasso.
Um projeto de homem e civilização que, hoje, só pode ser trabalhado com a zombaria.
Tim Parks escreve então sobre a ilusão de um sonho europeu que a todo instante toma o papel de solução. Uma história a ser seguida e alimentada, de que a "União" seria o coroamento máximo.
Mas seus personagens, de maneira extremamente divertida, dizem que o futuro não será necessariamente a concretização de velhos ideais.
Isso faz de sua literatura, tanto em seu país quanto no lado ocidental do continente, um objeto raro, pois não ignora a política e suas consequências.
Um satirista, no sentido mais radical do termo, Tim Parks não se contenta com a realidade que lhe oferecem e que muitos, de maneira insistente, procuram afirmar ser a única possível.
(MR)

Texto Anterior: Tim Parks analisa a confusa moral européia
Próximo Texto: Funk e o rap abalam o Brasil em livro
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.