São Paulo, quarta-feira, 31 de dezembro de 1997 |
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CORNELIUS CASTORIADIS CORNELIUS CASTORIADIS O fato de que a influência de Castoriadis tenha declinado nos últimos anos é menos um sinal de que sua obra tenha envelhecido e muito mais um sintoma de que o pensamento europeu, o parisiense sobretudo, perdeu fôlego histórico, assumiu um certo ar de descompromisso diante do mundo e foi se tornando cada vez mais autocomplacente com seu sucesso crescente de mídia. Foi Castoriadis, aliás, o primeiro a reconhecer, no fim da década de 70, o que ele batizou de "ideologia francesa", uma geração de filósofos relativistas e subjetivistas de espécies variadas -todos saídos da ressaca do estruturalismo- cujo traço comum seria o fato de terem se desviado das grandes questões públicas. Castoriadis foi, desde o início de sua trajetória intelectual, um dissidente dentro da esquerda. Em 1946, recém-chegado a Paris, fundou com Claude Lefort a revista "Socialismo ou Barbárie", a primeira publicação francesa a atacar o regime soviético e identificá-lo ao totalitarismo. Depois disso, passou bons anos procurando entender o funcionamento da burocracia que se montou na então URSS em nome do socialismo. Leitor e crítico de Marx, foi um dos primeiros intelectuais a sugerir a convivência da idéia socialista com a sociedade de mercado. Mas sua maior contribuição teórica talvez esteja condensada no livro "A Instituição Imaginária da Sociedade", de 73, em que defende a idéia de uma sociedade capaz de autogerir-se e elege o conceito de autonomia como uma espécie de ideal a ser buscado. Há, obviamente, um halo utópico nessa obra que para muitos pode parecer ingênua. Numa época de horizontes históricos rebaixados, no entanto, reler Castoriadis pode ser um bom antídoto ao pragmatismo resignado. Texto Anterior: ABERTURA DOS AEROPORTOS Próximo Texto: Economia e magia Índice |
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