São Paulo, quarta-feira, 31 de dezembro de 1997 |
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Quem é o culpado?
VALDO CRUZ Brasília - Hoje é o último dia de 1997. Um ano que começou bem e está terminando mal. A pergunta que se faz é se poderia ter sido melhor.Os tecnocratas de Brasília têm a resposta na ponta da língua: poderia, mas a crise asiática não deixou. O discurso oficial é que o Brasil em 1997 pode ser dividido em antes e depois do crash da Ásia. Antes, o país vivia um tempo de previsões otimistas. Crescimento de pelo menos 4%, desemprego sinalizando recuo e vendas aceleradas. O Brasil parecia estar imune a crises, um sentimento que o governo deixou correr solto. A equipe econômica chegou a dizer que o país não seria atingido pela crise dos tigres asiáticos. Depois que a Ásia entrou num parafuso de rosca sem-fim, o cenário mudou. O governo tucano foi obrigado a dobrar os juros e a baixar um pacotaço fiscal -aumentando impostos e cortando gastos. Resultado: o país não vai crescer mais do que 3,5% em 97 e, no próximo, viverá um período recessivo. Consequência: o desemprego vai subir e as vendas, cair. Essa análise oficial tem um pouco de verdade e muito de mentira. Realmente, não fosse a crise asiática, o brasileiro estaria começando 1998 muito bem. Mas boa parte da responsabilidade pelo cenário pessimista neste final de ano é do governo FHC. Caso o presidente tucano tivesse eleito como prioridade para 97 a aprovação das reformas estruturais e a busca de um Orçamento equilibrado, os efeitos do crash global sobre o Brasil poderiam ter sido bem menores. Fernando Henrique, no entanto, preferiu voltar suas energias para a reeleição. Deixou seu lado político prevalecer sobre o técnico. Deu no que estamos vivendo hoje. O presidente fica devendo ao brasileiro um final de ano melhor. E, por que não dizer, está em débito consigo mesmo, podendo se tornar vítima da sua própria estratégia. Afinal, o pacote fiscal não afastou o Brasil de uma futura crise econômica. Se ela vier, a tão sonhada reeleição pode virar pó. A culpa, tenham certeza, terá sido do próprio presidente. Texto Anterior: Economia e magia Próximo Texto: Quase naufrágio Índice |
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