São Paulo, sábado, 1 de fevereiro de 1997
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CÍRCULO VICIOSO

Fotos publicadas ontem na Folha, flagrando a truculência de policiais militares contra um garoto, denunciam a forma torpe com que a polícia trata os chamados meninos de rua.
Poucos paulistanos ainda conseguiriam identificar traços de inocência em boa parte dessa abandonada população infanto-juvenil. Sob a lei da sobrevivência a qualquer custo, muitas dessas crianças já adquiriram a agressividade e a impetuosidade dos mais contumazes infratores, representando inegável perigo para quem trafega pelas ruas de São Paulo.
Porém não se tem notícia de políticas de segurança bem-sucedidas baseadas apenas no uso da violência. No caso do menino agredido por policiais anteontem, não houve sequer um flagrante. Ainda que houvesse, o emprego da força não é a primeira atitude que se espera de responsáveis pela segurança pública.
O uso desse expediente condenável é, antes, um mau exemplo, sobretudo para os próprios menores, de como deve ser o convívio entre cidadãos no espaço público.
Entretanto, é indisfarçável a atual ausência de uma clara determinação política no sentido de retirar imediatamente das ruas essas crianças enredadas no círculo vicioso da miséria e do crime, bem como de inseri-las num cotidiano produtivo. Ao desamparo de que são hoje vítimas, continuarão respondendo, ao que tudo indica, com a imitação da truculência que as vem atingindo.
Por mais graves que sejam os ilícitos que pratiquem, o espírito de blitz não condiz com o tratamento que deveria ser dispensado a quem se encontra mais na condição de paciente do que de agente do infortúnio.

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